Título: Brasil convence Venezuela a retomar bases originais de parceria energética
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2007, Nacional, p. A13

O governo brasileiro e a Petrobrás minaram ontem a tentativa do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de impor novas regras para a parceria Petrobrás-PDVSA (Petróleos de Venezuela) nos projetos de construção da Refinaria Abreu de Lima, em Pernambuco, e de exploração conjunta na faixa petrolífera do Rio Orinoco. Em reunião de mais de quatro horas em um hotel de Manaus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou duro com Chávez sobre os riscos para a cooperação energética bilateral e enquadrou o venezuelano, que retomou a fórmula original da parceria.

O acordo verbal prevê que os presidentes vão se reunir a cada quatro meses para tratar da relação bilateral - em especial, da parceria energética. Para o primeiro desses encontros, em 12 de dezembro, em Caracas, ambos fixaram o objetivo de ver assinados os documentos que criarão duas companhias mistas - uma operada pela Petrobrás, para tocar a refinaria, e outra na Venezuela para cuidar da exploração conjunta de petróleo nas jazidas de Carabobo 1, na faixa do Orinoco. As minutas dos documentos de criação dessas empresas foram enviadas em julho pela Petrobrás para a PDVSA, que os havia engavetado.

Na reunião, Chávez recolheu seu discurso mais inflamado contra a Petrobrás. Ao chegar ao hotel, havia declarado que eram ¿mentirosas¿ as versões - do governo brasileiro e da Petrobrás - de que a PDVSA queria abocanhar 60% das ações da refinaria de Pernambuco. Também havia reclamado novamente do atraso nessas obras. ¿Estou triste e muito perplexo porque esse atraso já nos criou um problema político.¿

Ao final do encontro, aceitou a fórmula original de divisão acionária das empresas mistas - a PDVSA ficará com 40% da refinaria e com 60% da exploração em Carabobo 1. Ainda levou uma advertência indireta de Lula na declaração do presidente brasileiro à imprensa. ¿Queremos que a refinaria de Pernambuco comece a produzir em 2010 e que a exploração no Orinoco possa começar a produzir alguns dias depois, já que esse projeto está mais atrasado que a refinaria¿, disse Lula.

O presidente conseguiu dissipar parcialmente a principal divergência com Chávez sobre o Gasoduto do Sul. Ambos concordaram em contratar empresa de engenharia conceitual para o projeto. A advertência de Chávez de que assinaria a criação do Banco do Sul, com ou sem a participação do Brasil, também caiu no vazio.