Título: Síria diz que não há provas contra ela
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2007, Internacional, p. A15

Ministro da Informação nega que o país esteja por trás do atentado que matou deputado anti-sírio em Beirute

Não há provas contra a Síria. Esse foi o argumento usado ontem pelo regime de Damasco para defender-se das acusações de que estaria por trás do atentado que matou, na véspera, o deputado cristão libanês Antoine Ghanem em Beirute. Os membros da coalizão governista libanesa 14 de Março rebatem dizendo que basta ver que a vítima do carro-bomba, como as de atentados anteriores, era crítica da interferência síria na política libanesa.

No meio da briga, está a incerteza sobre o que pode ocorrer na terça-feira, quando deputados libaneses se reunirão para começar a decidir quem será o próximo presidente do país, por meio de eleições parlamentares. O mandato do atual chefe de Estado, o pró-sírio Émile Lahoud, termina no fim de novembro. As negociações entre o governo e a oposição para um acordo foram suspensas. O primeiro-ministro libanês, o sunita pró-ocidental Fuad Siniora, disse que seus aliados comparecerão à votação. Com tom conciliador, o presidente do Parlamento e um dos líderes da oposição, o xiita Nabi Berri, garantiu que o processo será levado adiante.

Mas, nas ruas de Beirute, a sensação era outra. Escolas e bancos fecharam as portas ontem e não devem reabrir hoje. Membros do partido cristão de Ghanem, a Falange, convocaram uma greve de dois dias. E, como é costume desde o assassinato do ex-premiê Rafic Hariri, em fevereiro de 2005, dezenas de milhares de pessoas devem participar hoje do funeral do parlamentar assassinado.

Em declarações publicadas no diário An-Nahar, um dos mais respeitados de Beirute, o líder governista Saad Hariri - filho do ex-premiê - afirmou que nunca viu ¿nada mais covarde do que o regime do presidente sírio, Bashar Assad¿. Segundo o jornal Al-Akhbar, Hariri disse que, quando Israel bombardeia a Síria, ¿os sírios respondem atacando o Líbano¿.

Desta vez, o governo sírio contra-atacou com dureza. Em entrevista ao Estado em seu escritório em Damasco, o ministro da Informação, Mohsen Bilal, pediu que figuras como Hariri e o líder druso Walid Jumblatt apresentem provas. ¿Como eles podem acusar-nos logo após o ataque, sem nenhuma evidência contra a Síria? É tudo mentira. Esses senhores são aliados de forças estrangeiras¿, disse, referindo-se aos EUA.

Questionado sobre o motivo de políticos como Hariri, Amin Gemayel e Ghassan Tueni - que perderam parentes nos recentes ataques - acusarem a Síria, Bilal afirmou que ¿eles fazem o jogo dos estrangeiros¿ e disse que o embaixador dos EUA em Beirute, Jeffrey Feltman, interfere na política interna libanesa. Já o Irã e a Síria, segundo ele, apenas têm simpatia por alguns grupos, como o Hezbollah, mas de forma nenhuma intervêm no Líbano.

¿A Síria está preocupada (apenas) com a segurança da Síria¿, afirmou o ministro, em um escritório com fotos de Luiz Inácio Lula da Silva, Fidel Castro e Hugo Chávez. ¿Mas todos sabem que, quando a Síria estava presente no Líbano, o Líbano era um país mais seguro¿, disse - acrescentando, no entanto, que os sírios não querem voltar a Beirute.

O Syrian Times, diário em língua inglesa de Damasco, publicou reportagem na capa sobre o atentado usando como base material de agências internacionais. No texto, porém, é omitido que Ghanem era um crítico da Síria. Além disso, não há nenhuma declaração de políticos governistas do Líbano. Mas o ministro da Informação sírio negou haver censura e acrescentou que todos os jornais libaneses podem ser encontrados nas bancas de Damasco.

Bilal também se recusou a apontar um responsável pelo atentado no Líbano: ¿Não há nenhuma prova contra ninguém ainda.¿ Ele disse também que a Síria tem cooperado com o tribunal da ONU que investiga o assassinato de Rafic Hariri.

Sobre a misteriosa incursão aérea de Israel no dia 6, o ministro sírio disse que foi uma ¿aventura de um fraco governo israelense que quer mostrar os seus músculos¿. ¿Não tivemos nenhuma perda material ou humana no ataque e nossas baterias antiaéreas repeliram os aviões israelenses¿, afirmou. ¿Essa ação serviu apenas para mostrar que são eles que não querem a paz. Como um dia após o presidente de Israel, Shimon Peres, dizer que quer a paz, Israel leva adiante uma ação dessas?¿ O ministro ainda ironizou as especulações de que os caças israelenses teriam bombardeado material nuclear na Síria. ¿Eles têm mais de 250 mísseis nucleares. Já a Síria quer um Oriente Médio livre de armas de destruição em massa.¿