Título: Junta militar birmanesa ameaça monges após protesto de 100 mil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2007, Internacional, p. A18

Manifestação em Rangum foi a maior desde 1988, quando repressão deixou 3 mil mortos

Rangum - A junta militar de Mianmá (ex-Birmânia) ameaçou adotar ações não especificadas contra os monges budistas que desde a semana passada vêm protestando em várias cidades contra o regime. A ameaça foi feita depois que pelo menos 100 mil pessoas (entre elas, 20 mil monges) marcharam ontem na antiga capital, Rangum, no maior protesto desde 1988 - quando manifestações contra o regime militar imposto em 1962 foram violentamente reprimidas pelo Exército. Acredita-se que pelo menos 3 mil pessoas tenham sido mortas naquela ocasião.

Grã-Bretanha, EUA, Cingapura, União Européia e o dalai-lama pediram à junta militar que não use a força contra os manifestantes. A Casa Branca informou que o presidente George W. Bush anunciará hoje, na Assembléia-Geral da ONU, sanções adicionais contra o regime de Mianmá, incluindo o fim da concessão de visto para os EUA, como forma de pressionar por mais democracia no país asiático. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse que Washington também pressionará a ONU a adotar medidas mais duras.

O governo militar não impediu a gigantesca manifestação, mas ontem à noite denunciou a participação dos monges, dizendo que eles foram instigados pelos ¿inimigos internos e externos¿ do regime. O ministro de Questões Religiosas, general Thura Myint Maung, alertou que, ¿de acordo com a lei, serão adotadas ações contra os monges que participam das marchas se eles não puderem ser contidos pelos ensinamentos religiosos¿. Falando a membros de alto escalão do Conselho dos Monges, Maung disse que os protestos foram incitados por ¿elementos destrutivos que não querem ver paz, estabilidade e progresso no país¿.

As manifestações contra as condições econômicas foram intensificadas no início do mês, quando os monges assumiram a liderança das marchas, adotando os temas do movimento pró-democracia: diálogo entre o governo e os partidos de oposição para a reconciliação nacional, libertação de presos políticos e melhores condições de vida.

Durante as marchas, muitos monges têm carregado suas tigelas de arroz de cabeça para baixo, indicando sua recusa em receber as almas dos membros do Exército.

CRONOLOGIA

15/8: Aumento do preço dos combustíveis causa protestos

5/9: Soldados agridem monges durante manifestação

17/9: Junta não se desculpa por violência e monges organizam mais protestos

18-21/9: Marchas atraem número cada vez maior de pessoas

Sábado: Monges marcham até a casa da oposicionista San Suu Kyi

Ontem: 100 mil manifestantes tomam as ruas de Rangum