Título: Álcool e calmante são as drogas mais usadas por médicos dependentes
Autor: Sant¿Anna, Emilio
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2007, Vida&, p. A24

Unifesp e Conselho Regional de Medicina de São Paulo traçaram perfil de 365 profissionais entre 2000 e 2005

Foram quatro anos de uso abusivo de um medicamento da classe dos opiáceos (derivados do ópio), com efeitos mais fortes do que a heroína. Duas overdoses e dois acidentes de carro depois, o fundo do poço chegou para o ex-ortopedista R.R., de 32 anos, quando desmaiou em um pronto-socorro durante seu plantão.

Há um ano longe do vício (leia ao lado), R.R. faz parte de um levantamento realizado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). A pesquisa traçou um perfil de 365 médicos dependentes de substâncias químicas atendidos pelo Uniad entre 2000 e 2005.

Para 48% dos médicos acompanhados pelo serviço da Unifesp - todos residentes - o álcool foi a droga apontada como responsável pelo início do problema de dependência. Em seguida aparecem a maconha (17%), benzodiazepínicos (calmantes, 13,7%) e medicamentos opiáceos (10,9%).

Uma vez instalada a dependência, esse quadro muda. Apesar de o álcool continuar na primeira posição, os medicamentos benzodiazepínicos e opiáceos passam a ser mais consumidos, o que sugere uma forte relação entre o consumo e a exposição ambiental.

Alguns fatores podem explicar esse padrão de consumo diferenciado com o tempo. Além do fácil acesso a medicamentos de uso controlado, esses profissionais muitas vezes têm a falsa idéia de que o conhecimento técnico que dominam sobre substâncias químicas garante o uso seguro.

¿Existe essa falsa impressão, o que é um mau uso da informação¿, diz o psiquiatra Hamer Nastasy Palhares Alves, autor da pesquisa.

PERFIL DIFERENCIADO

Outra constatação do estudo, que confirma a hipótese da exposição ambiental, é o perfil do uso de drogas de acordo com a especialidade médica. Entre as chamadas especialidades clínicas (como clínica geral, pediatria e patologia) e cirúrgicas, o álcool é a droga mais consumida.

Para os anestesistas e ortopedistas, no entanto, os medicamentos controlados, como calmantes e opiáceos, aparecem em primeiro lugar.