Título: Coreanos mantêm reunião histórica
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2007, Internacional, p. A17

Comunistas do Norte buscam ajuda econômica do Sul em troca de reformas e do fim de seu programa nuclear

Os líderes das Coréias do Sul e do Norte começaram ontem a segunda reunião de cúpula entre os dois países desde a divisão da península, há 60 anos - o outro encontro havia ocorrido em 2000. Kim Jong-il, homem forte do regime norte-coreano, convocou uma multidão para receber o presidente sul-coreano, Roh Moo-hyun, que foi oferecer ao vizinho um acordo de paz e ajuda financeira.

Para Kim, a visita vem em boa hora. Em dificuldades financeiras e isolado pela diplomacia ocidental, que tenta pôr fim a seu programa nuclear, ele dá sinais de cooperação e reforma. No entanto, muitos analistas alertam para a possibilidade de Kim estar usando o encontro para obter ajuda financeira sem que tenha de abdicar de suas armas nucleares. A oposição sul-coreana alertou o presidente a não fazer nenhuma concessão econômica que tenha como único objetivo um acordo com o regime comunista. Políticos conservadores de Seul acusam Roh de querer criar um ambiente de otimismo em relação a uma possível reunificação só para ganhar votos nas eleições de dezembro.

Depois de um dia dedicado às cerimônias de boas-vindas e a conversas extra-oficiais, os líderes abriram na manhã local de hoje as conversações formais, que se prolongarão até amanhã.

A TRAVESSIA

Ontem de manhã, a comitiva sul-coreana, com membros do governo, empresários, artistas e religiosos, parou ao chegar à zona desmilitarizada, na fronteira entre os dois países. Em seguida, Roh e sua mulher, a primeira-dama Kwon Yang-sook, entraram caminhando no país vizinho. Eles cruzaram uma faixa amarela onde estavam escritas as palavras 'paz' e 'prosperidade'.

'Essa faixa é uma linha que divide a Coréia por meio século', disse Roh. 'Eu espero que depois da minha passagem mais pessoas sigam esse mesmo caminho. Essa faixa será gradualmente apagada e a barreira vai cair.'

A Coréia foi dividida após a 2ª Guerra. Em 1950, o Norte, comunista, invadiu o Sul, apoiado pelos EUA, dando início à Guerra da Coréia (1950-53). O conflito terminou com um cessar-fogo - e não com um acordo de paz formal -, o que tecnicamente ainda mantém os dois lados em guerra. A trégua estabeleceu a fronteira no paralelo 38, onde foi criada uma zona desmilitarizada, a mesma que o presidente sul-coreano cruzou ontem.

ELEIÇÕES

Ainda na fronteira, Roh embarcou em uma limusine aberta rumo à capital da Coréia do Norte, Pyongyang. Assim que entrou na cidade, milhares de pessoas o receberam aos gritos de 'unifiquem a pátria'. Imagens de TV mostraram o presidente sul-coreano emocionado.

Diante do palácio do governo comunista, Roh e Kim trocaram um aperto de mão formal. Vestindo sua tradicional túnica cáqui, Kim caminhou sem dificuldades, desfazendo boatos de que estaria mal de saúde. O norte-coreano, porém, parecia mais tenso do que de costume, bem diferente do líder que recebeu sorridente o então presidente sul-coreano, Kim Dae-jung, em 2000. Na época, o norte-coreano prometeu fazer o caminho inverso, rumo a Seul, o que acabou nunca ocorrendo.

GUERRA E REAPROXIMAÇÃO

Agosto de 1945 - Colônia japonesa desde 1910, a Coréia é dividida em dois, após derrota do Japão na 2.ª Guerra. O norte fica sob influência da União Soviética e o sul, sob influência dos EUA

Agosto de 1948 - A República da Coréia é formada no sul e a República Popular Democrática da Coréia surge no norte

Junho de 1950 - Tropas norte-coreanas invadem a Coréia do Sul e dão início à Guerra da Coréia

Julho de 1953 - É assinado o Acordo de Armistício, que cria uma Zona Desmilitarizada de 4 quilômetros dividindo a península

Abril de 1996 - Pyongyang envia tropas à Zona Desmilitarizada

Junho de 2000 - O presidente da Coréia do Su, Kim Dae-jung, e o líder máximo norte-coreano, Kim Jong-il, realizam a primeira reunião de cúpula entre os dois países

Agosto de 2000 - Seul e Pyongyang promovem a primeira reunião de famílias separadas desde a guerra