Título: Uma obra polêmica que se arrasta por 21 anos
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2007, Economia, p. B3

O projeto da polêmica estrada de ferro Norte-Sul foi apresentado pela primeira vez em junho de 1986, pelo então ministro dos Transportes do governo de José Sarney, José Reinaldo Tavares. O objetivo da ferrovia, que inicialmente teria 1.300 km e ligaria Açailândia (MA) a Anápolis (GO), era impulsionar a integração inter-regional do País.

A obra, orçada em US$ 2,4 bilhões e com início previsto para o dia 1º de junho de 1986 e término para 1990, também tinha a função de reduzir os gastos com fretes para que produtos agrícolas, minério de ferro e manufaturados tivessem maior competitividade no exterior.

As obras já se arrastam por 21 anos. Em maio de 1987, foi descoberta fraude na concorrência das empresas que iriam participar da construção da estrada e a estatal Valec Engenharia, Construções e Ferrovias decidiu por sua anulação.

Por falta de recursos, somente em agosto de 1988 iniciaram-se as obras da Norte-Sul. E foi também a falta de recursos que paralisou as obras em agosto do ano seguinte.

Até hoje, apenas 374 km de trilhos (entre Açailândia e Araguaína) foram construídos, o equivalente a 18,8 km por ano ou 1,48 km por mês. Desse total, 159 km foram feitos no governo do presidente Lula.

A conclusão dos 1.980 km entre Belém (PA) e Anápolis (GO) ainda deve demorar mais alguns anos. Para se ter idéia, o trecho entre Araguaína e Palmas, no Tocantins, deve ficar pronto em 2009.

Pela falta de concorrência, a Companhia Vale do Rio Doce deve operar os 720 km que serão licitados hoje. Mas isso não chega a ser nenhuma novidade para a maioria dos representantes do setor ferroviário.

Em janeiro do ano passado, durante cerimônia de assinatura da Resolução da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que autorizou a construção da variante ferroviária Litorânea Sul (no Espírito Santo) pela Companhia Vale do Rio Doce, o presidente Lula pediu a colaboração de Roger Agnelli, presidente da Vale, para a construção da Norte-Sul.

Lula fazia referências ao andamento das obras da ferrovia quando disse: 'Se o Roger colaborar, vamos fazer mais rápido... a Ferrovia Norte-Sul'.