Título: Moradores só querem saber do progresso
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2007, Economia, p. B3

Resultado do leilão pouco interessa

Para os moradores da região cortada pela Ferrovia Norte-Sul, entre o Maranhão e o Tocantins, pouco importa quem ficará com a subconcessão da estrada de ferro. O que interessa é o progresso que o empreendimento trará para suas cidades. Alguns já sentem os efeitos dos investimentos e festejam a abertura dos novos postos de trabalho. Outros fazem o que podem para garantir o sustento de suas famílias.

A baiana Sueli Rosa Santos chegou a Estreito (MA) há mais de dez anos e seguiu o caminho dos outros moradores da cidade. Sem oportunidades de emprego, montou uma barraca de refeições à margem da BR-010 para atender os caminhoneiros que passam por lá e, até agora, não tiveram do que reclamar. Hoje ela tem até uma ajudante, que prepara as refeições servidas.

Feito de madeira e bastante rudimentar, o espaço tem como especialidade um prato chamado chambaril.Trata-se de um 'cozidão' feito com músculo da perna do boi, legumes e pirão, servido com arroz, explica Sueli. Segundo ela, o prato faz sucesso entre os caminhoneiros. 'Tanto que eles comem o chambaril até no café da manhã.' Além desse prato, outra comida que faz sucesso é a panelada, feita com bucho, pata do boi e mocotó. Cada prato custa R$ 4,00.

Outra alternativa para ganhar dinheiro em Estreito é o ponto de táxi de charretes, que também fica às margens da BR-010. Lá, dez homens trabalham diariamente transportando o que o cliente pedir, de entulho a móveis. 'Pagando, eu carrego qualquer coisa', afirma Luiz Carlos Balduíno Ferreira. Ele conta que já levou até defunto para o cemitério. O preço, diz, varia entre R$ 5 e R$ 15. 'Depende da distância', completa.

Natural de Montes Altos, no Maranhão, ele chegou a Estreito em 1986 - ano do lançamento do projeto da Norte-Sul. Fez alguns 'bicos' pela cidade e acabou comprando uma charrete, seu ganha-pão há 15 anos.

Ferreira é o mais conhecido no ponto de táxi, por isso, é também o mais requisitado. 'Aqui não tem fila. O cliente é quem escolhe quem vai prestar o serviço', conta Francisco Neto Pereira, que há dez anos trabalha com transporte em charretes.