Título: Brasil quer convencer UE de que etanol não afeta florestas
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2007, Economia, p. B11

Missão brasileira vai mostrar a deputados europeus como é a produção

O Brasil está montando uma campanha para tentar convencer a opinião pública européia de que a produção do etanol não está afetando a Amazônia e que o País está tomando medidas para evitar o desmatamento com o cultivo da soja. Hoje, em Bruxelas, o governo brasileiro e entidades de produtores se reunirão pela primeira vez com deputados do Parlamento Europeu e com representantes da sociedade civil para mostrar como a soja e o etanol estão sendo produzidos.

A União Européia (UE) teme que o Brasil esteja ignorando aspectos ambientais na produção agrícola e planeja a criação, até o fim deste ano, de um certificado para controlar o comércio do etanol.

A missão brasileira será composta por diplomatas, pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Instituto Brasileiro do Agronegócio (Abag) e Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja).

'O objetivo principal da visita é apresentar as ações do agronegócio brasileiro na área ambiental, particularmente nos setores de soja e etanol', explicou um diplomata em Bruxelas. Governo e setor privado garantem que não vão apenas negar a existência dos problemas. Segundo diplomatas, as entidades pretendem assumir uma 'postura ativa' nos debates ambientais.

No setor da soja, os debates serão concentrados na avaliação da moratória do comércio do produto cultivado na Amazônia, que completa um ano. Outro ponto da agenda será a garantia de que se desenvolva uma 'soja responsável', ou seja, que garanta padrões trabalhistas e ambientais. Por fim, a recente criação do Instituto do Agronegócio Responsável será debatida.

Nas discussões sobre o etanol, o vice-presidente da Abag, Luiz Carlos Carvalho, vai mostrar as práticas de produção do combustível e as regiões no Brasil onde isso ocorre. A relação entre o etanol e a redução das emissões de gases de efeito estufa também será avaliada.

Entre os deputados europeus, os alemães Karsten Hoppenstedt e Albert Dess estão liderando a iniciativa. Mas muitos destacam que o Brasil não ganhará todo o mercado que prevê se não convencer a opinião pública européia de que não está causando mais danos que benefícios à ecologia.

As declarações do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, favoráveis à entrada da cana em áreas da Amazônia, na semana passada, repercutiram negativamente na União Européia. Para deputados europeu e ONGs ligadas à preservação do meio ambiente, essa decisão vai prejudicar a imagem do etanol. O porta-voz da Comissão Européia para temas agrícolas, Michael Mann, reafirmou que a UE vai garantir que o combustível comprado pelos países do bloco seja de fontes sustentáveis.