Título: Mineradoras tentam mudar fama de poluidoras
Autor: Vialli, Andrea
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2007, Negócios, p. B20

Grandes empresas mostram que não degradam mais o ambiente

A mineração brasileira conviveu durante anos com o estigma de ser uma atividade poluidora e de deixar muitas áreas degradadas quando a exploração das jazidas termina. Mas a evolução das tecnologias de exploração, a legislação ambiental e as pressões do próprio mercado estão contribuindo para mudar esse quadro.

'Foi-se o tempo em que as mineradoras exploravam as áreas à exaustão. A mineração feita com responsabilidade ajuda a recompor as áreas após sua exploração', afirma Walter Cover, diretor de meio ambiente da Companhia Vale do Rio Doce. A companhia, que tem previsão de investir US$ 7,3 bilhões em projetos de mineração até o final do ano, também tem um ambicioso plano de preservação ambiental, que prevê o plantio de 346 milhões de árvores até 2010.

A estratégia vai pemitir recompor áreas impactadas pela mineração e também preservar regiões de mata nativa. De acordo com Cover, o projeto de mineração em Carajás, no Pará, pode ser considerado um exemplo. Após a abertura da mina - de onde já foram extraídos cerca de 1 bilhão de toneladas de minério de ferro - a região passou por significativo desmatamento, com queimadas e extração ilegal de madeira. 'Ainda assim, nos últimos 27 anos, conseguimos, em parceria com o Ibama, preservar 1,2 milhão de hectares de áreas de florestas no entorno de Carajás', diz.

O Estado do Pará deverá concentrar a maior parte dos plantios anunciados: cerca de 343 milhões de mudas. E um milhão de mudas irão recompor áreas na Nova Caledônia e Indonésia, onde a empresa está iniciando atividades.

COMUNIDADES

Mas não basta compensar os danos provocados ao meio ambiente. As próprias mineradoras admitem que o grande desafio é lidar com as comunidades, que muitas vezes vêem os empreendimentos de mineração com maus olhos. A própria Vale foi obrigada pela Justiça Federal a indenizar os índios Xikrin, do Pará, pelos impactos provocados pela exploração de minério de ferro em Carajás - embora a Vale diga que fez o que estava ao seu alcance.

'Os aspectos sociais e o convívio com as comunidades tradicionais são nosso desafio, é onde precisamos aprender mais', reconhece Maurício Macedo, gerente de sustentabilidade e assuntos institucionais da multinacional Alcoa.

A empresa está implementando um complexo de mineração de bauxita na região de Juruti (PA), em que prevê a extração de 2,6 milhões de toneladas de anuais. Ao mesmo tempo, se vê às voltas com intervenções do Ministério Público, que já chegou a pedir a anulação da licença ambiental do empreendimento. Um motivo seria a preocupação das comunidades quanto aos impactos da mina. A empresa se defende. 'Estamos ouvindo as lideranças locais e vamos criar um fundo para desenvolver a região pelo ecoturismo, piscicultura e agricultura sustentável.' Macedo afirma que a empresa investe R$ 50 milhões em infra-estrutura para a região, em obras como asfaltamento de vias, construção de hospitais e de aterro sanitário.

'A imagem da mineração é pior que sua atividade', diz Juliana Rehfeld, gerente de desenvolvimento sustentável da Anglo American Brasil, que atua nas áreas de mineração de níquel, nióbio e produção de fosfato. Para o projeto de produção de ferroníquel em Barro Alto (GO), com investimento previsto de US$ 1,2 bilhão de dólares, 10% do orçamento será destinado a ações de preservação e recuperação de áreas.

Para Paulo Gustavo Prado, diretor de política ambiental da ONG Conservation International, as mineradoras estão começando a mudar suas atitudes, mas ainda falta avançar do discurso para a prática. 'O setor pode ser sustentável, desde que saia da abordagem clássica, que é recompor áreas degradadas, para um caminho de integração com as comunidades e criação de alternativas econômicas para as populações impactadas.'

OS PROJETOS

Preservação ambiental: A Vale do Rio Doce prevê o plantio de 346 milhões de árvores, num total de 300 mil hectares de reflorestamento, no Brasil e no exterior. Uma parceria com o Ibama está permitindo conservar uma área de 1,2 milhão de hectares no entorno da mina de Carajás

Desenvolvimento regional: Também no Pará, onde a Alcoa está construindo um complexo para mineração de bauxita, está sendo traçado um plano entre iniciativa privada, governo local e entidades sociais para desenvolver alternativas econômicas para que a região não fique dependente da mineração. A idéia é criar um fundo para subsidiar o fomento a atividades como ecoturismo e piscicultura

Gestão ambiental: As grandes empresas adotam certificações de gestão ambiental, como a ISO 14001, para atender à legislação e reduzir o consumo de água, energia e matéria-prima, além de diminuir a geração de resíduos

Créditos de carbono: A Anglo American aguarda aprovação de projetos que vão possibilitar a venda de créditos de carbono no mercado internacional. Entre eles, estão iniciativas de reflorestamento, eficiência energética e co-geração nas fábricas