Título: Argentina se prepara para os 40 anos da morte de Che
Autor: Palácios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2007, Internacional, p. A12

Historiadores argentinos discutem a `argentinidade¿ do líder revolucionário

argentinos recordarão, no dia 8, os 40 anos da morte de Ernesto Guevara Lynch de la Serna. Para os parentes e amigos era ¿Ernestito¿. Para o resto do planeta é ¿El Che¿, o líder guerrilheiro mais famoso da história, ícone dos revolucionários românticos, o asmático médico que no meio da mata em Sierra Maestra lia Goethe e jogava xadrez entre um intervalo e outro de combate às tropas do ditador Fulgêncio Batista.

Outros analistas, especialmente aqueles localizados à direita do espectro político, o consideram como ¿comunista e cruel máquina de matar¿. Com eqüidistante ironia, o filósofo espanhol Fernando Savater o definiu como ¿um Rambo, mas em versão boa¿.

Para os argentinos é um mito, embora toda sua carreira revolucionária tenha ocorrido fora de seu país natal. Apesar desse fator, continua dando o que falar. Há poucas semanas, o programa de TV O Gene Argentino - uma espécie de competição com votação dos telespectadores para escolher os ¿heróis¿ da história do país - mostrou de forma clara o fascínio por Che entre os argentinos.

O guerrilheiro, na votação online, venceu Eva Perón com 60% dos votos. A líder dos ¿descamisados¿ ficou com 40%. Sociólogos e espectadores discutiram durante dias o polêmico resultado. ¿Ele nada fez pela Argentina¿, afirmava um lado, que recordava que toda a obra revolucionária de Che foi fora de seu país natal. ¿Mas ele fez pelo resto do mundo¿, retrucam os defensores do mito.

Sua imagem - especialmente a emblemática foto realizada pelo fotógrafo cubano Alexandre Korda - também está presente nas camisetas dos estudantes e nas decoração dos shows de rock. Além disso, é ostensiva nas bandeiras das torcidas nos estádios argentinos.

Os especialistas definem este marketing como o ¿marxeting¿, em alusão a Karl Marx, principalmente utilizada pela indústria da moda. Analistas também recordam que o sucesso de Che deve-se, em grande parte, à sua morte aos 35 anos, em plena juventude.

AURA

O historiador Daniel Balmaceda disse ao Estado que na Argentina leva-se mais em conta a pessoa que triunfa no exterior do que a que tenta vencer no país. ¿Che Guevara é o ídolo de sucesso em todo o mundo e dá pontos para a imagem dos argentinos¿. Segundo Balmaceda, nos últimos tempos, ele ¿tornou-se uma figura protegida por uma aura, meio sacra¿.

Há dois anos a Argentina vive uma onda de recuperação da figura do líder guerrilheiro. Parlamentares do centro propuseram que o governo argentino começasse negociações para repatriar os ossos de Che, atualmente instalados em um mausoléu na cidade cubana de Santa Clara. ¿Os argentinos querem o corpo dele simplesmente porque é um argentino famoso. Mas não é, de forma alguma, um referente da história local¿, afirma Balmaceda.