Título: Abandonar o hábito exige esforço de logística
Autor: Amorim, Cristina e Roxo, Elisangela
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2007, Vida&, p. A28
Nunca imaginei que, depois de adulta, voltaria a jogar Escravos de Jó com tanta freqüência. A brincadeira faz parte agora do meu cotidiano: toda semana, quando vou à feira, tiro e ponho da sacola de pano legumes, frutas e hortaliças diversas vezes, até tudo estar devidamente acondicionado. Isso porque tentei reduzir o máximo possível a quantidade de sacola plástica que consumo, então abdico também dos saquinhos usados para pesar, separar e distribuir as compras.
Quando há apenas uma sacola para tudo, as bananas não podem ficar sobre os tomates, ou terei molho pronto para o macarrão quando chegar em casa. A mesma lógica funciona para as pesadas laranjas, a delicada berinjela, e por aí vai. Como a distribuição das barracas não segue o peso dos produtos, é um tal de tira fruta põe fruta, põe a nova compra, deixa ficar - e eu, a zigue-zaguear pela feira, cada minuto com mais peso no ombro.
Em casa, o ritmo continua. A alface, sem saquinho, é quebrada folha por folha e colocada em potes (de plástico, pelo menos reaproveitáveis). Haja vasilhas para guardar tudo.
Com a mudança, criei um problema: falta saco para descartar o lixo doméstico, o que, por sua vez, me faz pensar em como reduzir os resíduos. Também terei de encarar um gasto extra em breve: resolvi investir num carrinho de feira, porque a sacola de pano não é nada prática e machuca o ombro. Mas sei que o ganho ambiental compensa e, com meu exemplo, espero tirar outros entusiastas da idéia do armário. Minha consciência e meu futuro agradecem.