Título: Livrar-se dos saquinhos ainda é uma tarefa difícil
Autor: Amorim, Cristina e Roxo, Elisangela
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2007, Vida&, p. A28
E m frente à operadora de caixa ainda inexplicavelmente incrédula, um bem-educado e sorridente gerente me encarou e disse: 'Infelizmente o Carrefour não trabalha dessa forma.' Eu não queria criar caso, apenas não pagar pelo que não consumi. Ainda tentei argumentar: 'Mas João (era esse o nome no crachá), eu não estou levando as sacolinhas, não é justo eu pagar por elas', disse.
Não teve jeito. João foi embora e a operadora me confidenciou: 'Já vi gente trazer as sacolas de casa, mas pedir para não pagar foi a primeira vez', disse, dando de ombros.
Esse foi o único problema de minha ida ao supermercado, programa normalmente intolerável, com três sacolas de pano que levei de casa - uma apenas para produtos de limpeza. Com elas consegui carregar tudo. Nada se misturou, nenhum ovo quebrou, a água sanitária não vazou, nenhuma cebola rolou para debaixo do banco do carro.
Mas não consegui evitar os plásticos completamente. Ao chegar ao supermercado, um segurança lacrou as bolsas de pano em um saco. A sensação de que conseguiria sair dali sem nenhum outro saquinho durou apenas até chegar à seção de verduras. Ali, os produtos ficam expostos à curiosidade e ao manuseio dos clientes, ao lado de rolos intermináveis de sacos plásticos. Impossível comprar qualquer coisa naquela seção sem usá-los.
Tive de guardar itens como alho, batatas e tomates nos saquinhos para que não se espalhassem pelo carrinho de compras. A idéia inicial era colocar tudo dentro da sacola de pano. Mas, de qualquer maneira, eles teriam de ser pesados no caixa, o que exigiria novamente o uso de saquinhos.
Pois é. Mesmo com a minha sólida intenção de produzir menos lixo, não consegui me livrar deles.