Título: Uso da capacidade instalada da indústria é o maior em 30 anos
Autor: De Chiara, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2007, Economia, p. B1
Nível de ocupação das máquinas já preocupa o governo, diante do aumento dos preços nos últimos meses
A indústria está a todo vapor. O nível de utilização da capacidade das fábricas neste mês atingiu 86,1%. É o maior em 30 anos, desde janeiro de 1977, quando alcançou 87%. O resultado ganha relevância porque o pico de produção da indústria de transformação, que não inclui a exploração de minérios e o extrativismo, normalmente ocorre em outubro. Os dados são da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da FGV. Para chegar a esse resultado, foram consultadas 1.109 empresas entre 1º e 26 de setembro.
Na comparação com setembro de 2006, o avanço do uso da capacidade instalada da média da indústria de transformação neste mês foi de 1,5 ponto porcentual. As maiores elevações ocorreram nos fabricantes de bens de capital, de 82,8% em setembro de 2006, para 87,2% este ano, e nos bens de consumo, de 81,7% para 84,7%. Na comparação anual, houve um ligeiro recuo neste mês no uso da capacidade das indústrias de bens intermediários (de 88,3% para 87,5%) e de materiais de construção (de 87,2% para 86,8%).
O uso da capacidade instalada da indústria é hoje uma das principais preocupações do governo. Diante da aceleração da inflação, puxada até agora pelos alimentos, e de outros indicadores que apontam o aquecimento da demanda, o Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central, divulgado na quinta-feira, destacou a possibilidade de risco de que a oferta de produtos não atenda, no futuro, a maior procura provocada pelo crescimento e cause inflação.
Apesar do nível recorde, o coordenador da sondagem, Aloisio Campelo, pondera que houve uma desaceleração no aumento do uso da capacidade de agosto para setembro deste ano, comparado com igual período de 2006. O uso da capacidade instalada da indústria cresceu 0,4 ponto porcentual nos últimos 30 dias, ante um acréscimo bem maior, de 1 ponto porcentual, de agosto para setembro do ano passado.
¿Não temos também estatísticas recentes sobre a evolução dos investimentos na indústria para avaliar até que ponto há riscos de gargalos¿, observa o economista. De toda forma, ele destaca que o interesse da indústria de ampliar as contratações dá pistas de que os investimentos estão em curso e podem afastar o risco de gargalos na produção e futuras pressões inflacionárias. ¿Se as empresas estão contratando, é porque elas estão investindo¿, observa.
De acordo com a sondagem, 37% das companhias ouvidas neste mês informaram que pretendem contratar nos próximos três meses, ante 35% em setembro de 2006. Também diminuiu no período o número de empresas que planejam demissões, de 13% em setembro de 2006, para 6% este ano.
Campelo frisa que o aumento do uso da capacidade não é generalizado. Ele destaca três setores com risco de gargalo na produção: a indústria metalúrgica, a mecânica e de materiais de transporte (indústria automobilística). Nesses segmentos, a fatia de empresas com estoques insuficientes supera a de estoques excessivos.