Título: Generais cercam mosteiros para tentar conter revolta em Mianmá
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2007, Internacional, p. A21
Exército impede a saída de monges e corta celulares e internet para evitar divulgação da repressão no exterior
A junta militar de Mianmá, a antiga Birmânia, fechou ontem mosteiros budistas e interrompeu os sinais de telefones celulares e os serviços de internet para impedir a divulgação de informações em outros países sobre a repressão. Assim, o Exército conseguiu retomar o controle das ruas de Rangum, maior cidade do país.
Um operador de turismo holandês, que trabalha em Mianmá, disse ontem ao Estado que todos os escritórios do centro de Rangum, lojas e escolas estão fechados. ¿Está perigosíssimo sair na rua. Os tiros estão vindo de todos os lados¿, disse. ¿Todos os turistas que ainda estão no país serão retirados no fim de semana.¿
Se os generais parecem ter retomado o controle interno, a má notícia veio do exterior. Imagens de satélite confirmaram o desaparecimento de pelo menos 18 vilas no leste do país. De acordo com a Associação Americana para o Avanço da Ciência, que obteve as imagens, vilas vêm sendo sistematicamente destruídas pelos militares desde abril.
Os cientistas americanos também acusaram os generais de forçar o deslocamento de populações inteiras para áreas controladas pelo Exército. ¿Observamos que em uma área vizinha a uma base militar surgiram 31 vilas nos últimos cinco anos¿, disse Lars Bromley, um dos pesquisadores da associação.
REPRESSÃO
Rangum amanheceu com a segurança reforçada em pontos estratégicos da cidade. Os mosteiros foram cercados para impedir que os monges voltassem a liderar as manifestações. A maior manifestação de ontem reuniu cerca de 2 mil pessoas no centro da cidade. Esses pequenos grupos de civis foram facilmente perseguidos e dispersados pelo Exército.
Grupos dissidentes e diplomatas estrangeiros foram unânimes em dizer que o número de vítimas foi maior do que os 12 mortos divulgados pela ditadura. Uma testemunha disse à rede de TV CNN que na quarta-feira havia visto mais de 35 corpos espalhados pelas ruas de Rangum. A estimativa recorrente era de que o total de mortos pode ter chegado a 200.
O birmanês Win Min, analista militar e professor da Universidade Chiang Mai, na Tailândia, disse que a única chance de sucesso dos manifestantes seria um racha entre os militares, uma quartelada que colocasse no poder generais mais liberais.
De acordo com ele, os oficiais que comandam os soldados em Rangum, por exemplo, seriam contrários às ordens de atirar contra a multidão. ¿Existe um descontentamento de parte dos servidores públicos e de muitos militares que tiveram de se mudar para Naypyidaw (a nova capital, a 400 quilômetros de Rangum)¿, disse Min.
¿Além disso, os soldados são budistas e a ordem de atirar contra os monges está acabando com o moral da tropa.¿ Para o analista, embora haja indícios de um racha na cúpula militar, ainda é impossível calcular o grau de discordância.