Título: Relator pede que comunidade internacional se mobilize
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2007, Internacional, p. A24

O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, relator da ONU para a situação de direitos humanos em Mianmá, defende uma mobilização da comunidade internacional em apoio aos monges que enfrentam as tropas do Exército da antiga Birmânia. Em entrevista ao Estado, Pinheiro pede ainda uma saída negociada para a crise.

¿Não podemos ficar apenas assistindo a esses corajosos monges enfrentar os militares¿, afirma Pinheiro, que desde 2003 tem sua entrada no país recusada pela junta militar birmanesa. No final de outubro, Pinheiro irá apresentar à Assembléia-Geral da ONU seu relatório sobre as violações em Mianmá. ¿Não há um Estado de Direito no país¿, diz o brasileiro.

¿O que já pedi ao governo é que não use de violência para acabar com os protestos. Não haverá solução para a situação sem um diálogo¿, disse. ¿Dois manifestantes já foram condenados à prisão perpétua. Isso não podemos aceitar¿, acrescentou Pinheiro, citando ainda a situação da líder da oposição e Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, que está em prisão domiciliar desde 2003.

Segundo ele, os monges dependem da população para se alimentar e, todos os dias, percorrem as ruas coletando as oferendas feitas pela população que, em troca, recebe orientação espiritual.

¿Apesar de não terem armas, os monges são os responsáveis em Mianmá pela dimensão espiritual do país. O fato de estarem recusando oferendas dos militares significa, na prática, que estão excomungando o Exército¿, afirmou Pinheiro. O protesto começou quando militares usaram violência contra alguns monges. Em represália, os monges decidiram não aceitar nenhum contato com o Exército.

Para Pinheiro, a comunidade internacional e a ONU precisam aproveitar o momento para estabelecer um diálogo com a junta militar. ¿Minha proposta é que seja criado um grupo de contato para negociar com o governo, que atue sem alarde e necessariamente com ajuda da China. Sem Pequim, nenhum governo ocidental será escutado por Mianmá¿, disse.