Título: Mesmo ganhando menos, elas são as chefas da casa
Autor: Werneck, Felipe e Albuquerque, Liege
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2007, Vida&, p. A35

Foi-se o tempo em que pagar as contas era suficiente para que os homens dessem as cartas dentro de casa. Ao perguntar pela pessoa de referência do lar, os entrevistadores do IBGE ouviram o nome de uma mulher em 29, 9% dos casos, quase oito pontos porcentuais a mais do que em 1996. A maioria delas, quase 80%, é formada por mulheres que administram a família sozinhas.

A novidade é que, entre as mulheres que têm companheiro, 20,7% são consideradas chefes da família. Esse número era de apenas 9,1% em 1996. Nas regiões metropolitanas de Salvador, Belém e Fortaleza, essa taxa chega perto de 30%.

Na avaliação feita pelos técnicos do IBGE, estão mudando os critérios para que as famílias escolham o responsável pelo lar. A renda, antes critério indiscutível, tem dado lugar a outros fatores, como o nível de escolaridade feminina maior e a posse do imóvel pela mulher, num sinal do crescimento do poder feminino na sociedade.

Curioso é que apenas 56,2% das mulheres com marido ou companheiro apontadas como chefe de família trabalham. Entre seus cônjuges, a taxa de ocupação é mais alta: 78,5%.

Em 47% das famílias lideradas por mulheres, ambos os cônjuges trabalham, mas em quase 70% os companheiros têm salários superiores aos delas.

Nos arranjos familiares em que os homens são a referência como ¿chefe¿, ainda prevalece o rendimento como quesito fundamental. A taxa de ocupação desses homens é de 83,2% e pouco mais da metade das suas companheiras trabalha. Mesmo quando a mulher trabalha, apenas 27,4% ganha o mesmo ou mais do que o companheiro, prova de que a desigualdade por gênero persiste nas relações de trabalho.