Título: PMDB arma nova rebelião e pede cargos
Autor: Samarco, Christiane e Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2007, Nacional, p. A7

Em jantar, senadores dizem que não será fácil governo aprovar CPMF

Brasília - Terminou em clima de motim o jantar dos senadores do PMDB na terça-feira. Depois de um rosário de queixas contra o governo, por conta de promessas de cargos não cumpridas, eles deixaram claro que não será nada fácil para o Planalto aprovar a emenda que prorroga a CPMF, quando chegar ao Senado. E ontem à noite o líder do partido no Senado, Valdir Raupp (RO), entregou ao ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, a lista de postos cobiçados pela sigla.

¿Vamos continuar votando com o governo, mas admito que essa situação tem causado ansiedade¿, contou Raupp depois. Mares Guia tentou contemporizar: ¿Não há pressão, não estamos com a faca no pescoço nem há aqui o famoso toma-lá-dá-cá.¿ Ele também disse que a distribuição de cargos e a liberação de recursos para emendas fazem parte da ¿rotina¿, repetindo que até o fim do ano serão liberados R$ 3,5 bilhões.

Estão na lista dos senadores peemedebistas indicações para o setor elétrico, principalmente Eletrobrás, Eletrosul e Eletronorte. Tudo está parado à espera da escolha do ministro de Minas e Energia e a expectativa do PMDB é que Silas Rondeau volte à pasta. Rondeau deixou o governo em maio, depois de ser acusado, durante a Operação Navalha, da Polícia Federal, de receber propina da Construtora Gautama, o que ele nega.

Os peemedebistas têm cobrado insistentemente seu retorno à Esplanada. No jantar de terça-feira, o senador José Sarney (AP), um dos mais fiéis aliados de Lula, considerou a demissão de Rondeau ¿uma injustiça muito grande¿ e reclamou da demora do governo em reconduzi-lo.

O objetivo oficial do jantar era afinar o discurso e acalmar os rebeldes, que há uma semana derrubaram a medida provisória que criava a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo e 660 cargos. Mas no fim, depois de todas as queixas, a avaliação geral era de que a conta da insatisfação será apresentada durante a votação da CPMF.

RENAN

Aliados do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), cobraram solidariedade dos petistas e acusaram o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) de ¿desagregar a base¿ com sua ¿campanha contra Renan¿, que responde a processos por quebra de decoro no Conselho de Ética. Renan disse que ¿a oposição está movida a ódio¿ e o objetivo dos adversários do Planalto é assumir a presidência do Senado. Seus aliados têm argumentado que, se ele deixar o cargo, a disputa pela presidência será imediatamente deflagrada e a oposição pode conquistá-la, com a ajuda de Mercadante.

O grupo pediu ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), que diga ao presidente Lula que o petista está criando dificuldades para o governo - uma referência ao fato de que a irritação do partido pode se traduzir numa resistência a aprovar a prorrogação da CPMF. Ontem, Mercadante reagiu, argumentando que o que está em discussão ¿não é a alternância de poder no Senado e sim o decoro parlamentar¿. Ele negou que lidere qualquer movimento contra Renan, mas voltou a sugerir que ele se licencie até que os processos terminem. ¿O que está gerando um clima extremamente tenso no Senado, e desagregando a base, é a permanência de Renan no comando.¿

Nem Sarney defendeu Lula no jantar. Em meio à reclamação geral, ele disse que é o presidente que melhor o tratou, mas reclamou da demissão de Rondeau. Também disse que queria ¿desmistificar¿ a idéia de que era responsável pela nomeação de muitas pessoas para cargos, pois isso não era verdade.

Em meio ao chororô por cargos, Jucá acabou citado como exemplo do desprezo do Planalto, já que sua mulher, Tereza, perdeu a disputa pelo governo de Roraima e não foi nomeada para nenhum cargo. Um dos presentes perguntou se ele não tinha protestado, mas o líder do governo respondeu apenas que ¿nesses casos é melhor operar com pragmatismo¿.

O grupo de Renan também pressionou Raupp a tirar da Comissão de Constituição e Justiça Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcellos (PE), dois ¿independentes do PMDB¿. É que pela CCJ passarão tanto os processos contra Renan, depois de votados no Conselho de Ética, como a emenda da CPMF.

Um dos presentes explicou que a preocupação não é facilitar a vida do governo, mas a de Renan. Jarbas, que não foi ao jantar, assim como Simon, é apontado com o mais forte candidato da oposição na sucessão do Senado. Ontem, irritado, ele procurou Raupp para confirmar sua destituição, mas ouviu um desmentido. ¿A ameaça é real, mas não é possível que a tropa de choque do Renan domine o Senado¿, protestou.