Título: Cabral tira espaço de Garotinho no PMDB
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2007, Nacional, p. A9

Ex-deputado do PSDB Eduardo Paes formalizou filiação ao partido do governador e é pré-candidato a prefeito

Rio - Em meio a um tumulto provocado por militantes ligados ao ex-governador Anthony Garotinho, o ex-deputado Eduardo Paes, que ocupava a secretaria-geral do PSDB, formalizou ontem sua filiação ao PMDB. Paes chega ao partido pelas mãos do governador Sérgio Cabral Filho, e como pré-candidato à Prefeitura do Rio. Isso contraria o acordo fechado por Garotinho, presidente regional da legenda, com o prefeito Cesar Maia para dar ao DEM a cabeça-de-chapa na eleição do ano que vem.

Paes, secretário estadual de Esportes e Turismo, chegou com Cabral ao Diretório Regional do PMDB, no centro do Rio, sob aplausos e vaias. Integrantes do núcleo jovem do PMDB - liderado pela filha de Garotinho, Clarissa Matheus - faziam muito barulho, gritando palavras de ordem. ¿Eduardo, vai para o PT e leva o Cabral com você¿, repetiam. O grupo de Paes respondia com vaias e gritava o nome do secretário. ¿Perderam a boquinha¿, revidava.

Enquanto isso, Paes, o governador e o senador Paulo Duque (RJ) fizeram rápidos discursos. Cabral afirmou que a filiação ampliará as alianças do PMDB do Rio e reforçará a aproximação com o presidente Lula.

O ex-tucano disse que não se sentirá desconfortável se tiver Lula em seu palanque caso concorra à prefeitura. Em 2005, o então deputado foi um dos mais atuantes da CPI dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão, e apontava a formação de quadrilha no governo. ¿De fato tinha ali um esquema montado. Está comprovado, foi denunciado no Supremo Tribunal Federal (STF). Aquele era o meu papel¿, argumentou. Paes disse ter trabalhado com Lula este ano ¿sem constrangimento¿ nenhum. ¿O que era mais importante para o Rio? Ficar de birra com Lula ou fazer o Pan?¿, indagou, citando R$ 140 milhões liberados para as obras dos Jogos Pan-Americanos.

Cabral minimizou o tumulto. ¿São naturais as manifestações dessa garotada, que não tem a menor expressão política, ligada a gente sabe a quem¿, disse. Sobre a possibilidade de impugnação da filiação pelo Diretório Regional, cogitada pelo grupo de Garotinho, o governador desdenhou do desafeto: ¿Coitado, deixa ele para lá.¿

ACORDO

No discurso, Paes disse que chega ao PMDB ¿com humildade¿ e disposto a seguir o caminho definido pela sigla, seja a aliança com o DEM ou a candidatura própria. Além dele, o deputado Marcelo Itagiba (RJ) postula a cabeça-de-chapa.

Cabral demonstrou apostar num entendimento com o presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Picciani, que também foi contra a filiação de Paes. Principal articulador do acordo que cede a cabeça-de-chapa ao DEM, Picciani é o fiel da balança que pode garantir a vitória de Cabral sobre Garotinho.

Paes negou que sua saída do PSDB tenha causado mal-estar. ¿Sei que as pessoas ficaram tristes, mas suas circunstâncias são diferentes.¿ Ele se justificou, citando o enfraquecimento da sigla no Rio. ¿Só deixei amigos¿, disse, citando os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) e os senadores Tasso Jereissati (CE), presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE) e Arthur Virgílio (AM).

Ele foi secretário de Maia, com quem começou na política. Após um desentendimento, paes trocou o então PFL pelo PSDB, elegeu-se deputado em 2002 e tentou o governo do Estado em 2006. Aliado de Cabral no segundo turno, à revelia do PSDB, começou a se afastar do partido e aceitou participar da administração estadual.