Título: Editora admite erro em livro didático, mas nega propaganda
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2007, Vida&, p. A23

Moderna, que edita `Projeto Araribá¿, já tirou texto do Fome Zero da obra

O diretor-executivo da Editora Moderna, Sérgio Quadros, admitiu ontem que há erros no livro didático História - Projeto Araribá, mas que não podem ser classificados como propaganda política. ¿Não haveria motivo em fazer um livro que agradasse ao governo se não é ele o responsável pela escolha¿, disse. A obra foi a campeã de vendas para 2008, com 5,6 milhões de exemplares vendidos ao Ministério da Educação (MEC). O governo compra as coleções escolhidas pelos professores de cada escola do País.

Um dos maiores questionamentos em relação ao livro é o fato de ele trazer um texto sobre o Fome Zero, do Instituto Cidadania, no capítulo referente à história brasileira recente. Segundo Quadros, a primeira edição da obra foi elaborada em 2003, quando ¿só se falava nisso¿. O exemplar que será distribuído à rede pública em 2008 foi finalizado em 2006 e mantém o trecho. ¿O texto é uma fonte histórica, mas o livro propõe atividades críticas que poderiam ser feitas com ele¿, diz, referindo-se à sugestão que a própria obra traz em seu guia do professor para que ¿os alunos comparem as propostas do documento com as realizações concretas do governo federal no combate à pobreza¿.

Quadros explica que uma terceira versão do livro já está sendo impressa neste ano sem o texto sobre o Fome Zero. ¿Todos os textos de apoio (que fazem parte dos capítulos, mas não são escritos pelo autor) foram trocados porque é um procedimento normal de atualização. Mesmo que não fosse, o Fome Zero sairia porque o programa não existe mais¿, afirma. O novo livro será vendido apenas para escolas particulares, já que as públicas utilizam uma mesma obra por três anos, prazo para que o governo realize um novo processo do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

As obras elaboradas para participar do PNLD costumam ser diferentes das encontradas em livrarias. Elas seguem normas como a de não conter atividades que precisem ser realizadas nas próprias páginas do livro - já que o exemplar deve ser repassado para o colega mais novo -, a proibição de qualquer propaganda e a obrigatoriedade do hino nacional na contracapa.

Para o diretor da Moderna, foi um incorreção a relação feita em um trecho da primeira edição do livro entre Revolução Russa e Fome Zero. ¿Isso é um absurdo, mas já não faz parte da obra¿, diz. Uma foto de um outdoor do mesmo programa também foi considerada desnecessária por ele; mas se mantém na edição enviada à escola pública.

A Moderna foi adquirida pelo Grupo Santillana em 2001 e, desde então, tem crescido no mercado editorial didático brasileiro. Passou de uma mínima participação entre os livros que faziam parte do PNDL para se tornar neste ano a empresa que mais forneceu livros para as escolas públicas. Foram 43 milhões de exemplares para os ensinos fundamental e médio. Hoje, as vendas para o governo representam mais de 50% da receita da empresa. ¿Nossos livros são fáceis de serem trabalhados na sala de aula e fizemos um trabalho forte de marketing, de aproximação com os professores¿, diz Quadros.