Título: Ele não está acostumado com a democracia
Autor: Costa, Rosa; Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2007, Nacional, p. A12

Do ponto de vista econômico, diz tucano, entrada da Venezuela é boa, mas `destempero¿ de Chávez precisa ser levado em conta.

Um dos deputados a pedir vista no projeto que prevê a inclusão da Venezuela no Mercosul, em sessão da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, na semana passada, Arnaldo Madeira (PSDB-SP) disse ontem ao Estado que ainda tem dúvidas se o país vizinho deve ou não ser aceito no bloco comercial. Ele acha que o Brasil deve ter cautela ao analisar a proposta, ainda mais neste momento. ¿A Venezuela indo para um caminho, que não o da democracia, exige uma reflexão ainda maior.¿

Madeira mostrou-se indignado com as declarações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que na quinta-feira, em visita a Manaus, voltou a acusar o Congresso de não aprovar a entrada de seu país no Mercosul por submissão aos Estados Unidos. ¿Chávez não está acostumado com a democracia. No Parlamento dele não tem oposição¿, reagiu o tucano.

A proposta de adesão da Venezuela ao Mercosul está prevista para ser votada na Comissão de Relações Exteriores da Câmara na quarta-feira. Se for aprovada, seguirá para o Senado. Na entrevista, Madeira ressalvou que ainda não tem uma posição fechada sobre a questão e vai consultar seu partido a respeito. Mais tarde, o PSDB defendeu a rejeição ao projeto. Os principais trechos da entrevista:

Em junho o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chamou o Congresso brasileiro de ¿papagaio de Washington¿ e na quinta-feira afirmou que ¿a mão do império¿ comanda o Parlamento. O que o senhor acha dessas críticas?

Chávez não está acostumado com a democracia. No Parlamento dele não tem oposição. Ele é um militar acostumado com o militarismo e fica estupefato com a divergência de opiniões. O Parlamento dele é o do ¿sim senhor¿.

Por que o senhor pediu vista do projeto que prevê a inclusão da Venezuela no Mercosul na semana passada?

Fizemos uma série de audiências públicas e ouvimos várias entidades. Surgiram dúvidas, do ponto de vista técnico, sobre se a adesão da Venezuela é favorável ao bloco. Do ponto de vista econômico, sabemos que sim. Mas existem algumas restrições. É preciso ter cuidado com o interesse brasileiro e pesar o que significa a inclusão do país com um Chávez destemperado, que fala um monte de coisa, mas continua vendendo petróleo para os Estados Unidos.

Neste momento, o senhor votaria a favor ou contra a inclusão da Venezuela no Mercosul?

Eu ainda não tenho o meu voto. A Venezuela indo para um caminho que não o da democracia exige uma reflexão ainda maior. Vou consultar o meu partido, o PSDB, para sabermos qual posição será adotada.

Qual é sua expectativa em relação ao projeto que está em tramitação na Câmara?

Na Comissão de Relações Exteriores a maioria esmagadora é da base do governo. Fica difícil saber o que exatamente o governo está pensando sobre tudo isso. Com tudo o que tem acontecido, essas declarações do Chávez, eu defenderia maior tempo para reflexão.