Título: Dando sorte ao azar
Autor: Kramer, Dora
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2007, Nacional, p. A8

Absolvido na primeira das quatro acusações que pesam contra ele no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros, sentiu-se fortalecido e resolveu dar sorte para o azar.

Resultado: não atendeu à expectativa de seus aliados mais razoáveis - a tropa de almeidas e salgados não conta -, que esperavam dele o gesto do pedido de licença, e agravou uma situação que parecia administrada.

Semana passada a oposição radicalizou e nesta agora será a vez do PT de deixar cada vez mais evidente uma posição contrária à permanência de Calheiros na presidência do Senado enquanto não forem julgadas todas as representações contra ele.

Aquela impressão inicial, de que vencida a primeira etapa o jogo todo estava ganho, vai desaparecendo para dar lugar a uma paulatina perda de apoio que já traz de volta ao cenário a possibilidade real de uma cassação de mandato.

A se confirmarem de público opiniões de gente que até uma semana atrás integrava seu grupo de sustentação, trata-se a partir de agora só de uma questão de tempo e procedimentos.

Salvo no dia 12 de setembro por uma conjunção de votos favoráveis na oposição com a manobra petista em prol da abstenção da maioria de sua bancada, o presidente do Senado optou por confrontar a tudo e a todos, tendo como conselheiro principal o deputado Jader Barbalho.

Com isso, caminha para perder o que resta de apoio formal no PT. O governo terá ao seu lado enquanto o PMDB continuar comprando a sua briga. Na hora em que perceber que ao partido interessa a distância, o Palácio do Planalto oficializa as exéquias.

O advogado Eduardo Ferrão já pulou do barco. Mais gente pulará. Internamente, o PT é unânime no Senado em relação aos seguintes pontos: afastamento, julgamento único de todas as representações e sessão aberta no dia da decisão.

Mas por enquanto só quem tomou essa posição foi o senador Aloizio Mercadante. Ele, evidente, está interessado em salvar a própria aparência, depois de ser praticamente responsabilizado pela absolvição, mas não faria movimentos radicais no sentido contrário ao desejo da bancada e muito menos do governo.

E a bancada, em articulação conduzida por Mercadante, vai começar a deixar sua posição clara. Além de Mercadante, o vice-presidente do Senado, Tião Viana, também assumiu a linha de frente. E o fez já no dia seguinte à absolvição, quando admitiu publicamente que a presença de Renan Calheiros traria dificuldades grandes ao governo na votação da CPMF.

Discretamente, já se iniciaram conversações com o PMDB de forma a perceber se o partido faria algum movimento mais brusco na aliança com o Palácio do Planalto no caso de recrudescimento contra o presidente do Senado.

Dessas consultas resultou o seguinte: até os correligionários consideram mais prudente Renan Calheiros se afastar o quanto antes.

Como ele não concorda e continuará não concordando, daqui em diante o jogo será feito com muito menos tolerância. A começar pela circulação das informações colhidas pelo corregedor Romeu Tuma com João Lyra em Alagoas, até agora mantidas sob generosa proteção.