Título: Carne e leite ajudam e IGP recua
Autor: Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/10/2007, Economia, p. B4

Índice fecha setembro com variação de 1,17%, ante 1,39% em agosto, e pode atingir 5% no ano, segundo a FGV

Graças ao comportamento favorável dos preços de carne e leite no atacado, a inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) perdeu força em setembro. O indicador teve alta de 1,17% no mês passado, em comparação com o aumento de 1,39% em agosto.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV), que anunciou ontem o índice, não descartou a hipótese de novas quedas no indicador, que deve fechar 2007 com alta acima de 5%.

Embora não seja mais usada para reajustar a tarifa de telefone, a taxa acumulada do IGP-DI ainda serve para indexar as dívidas dos Estados com a União. Até setembro, o índice acumula elevações de 4,44% no ano e de 6,16% em 12 meses.

O coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, não acredita que o resultado anual fique próximo da taxa acumulada em 12 meses. Ele aposta na continuidade das desacelerações e em quedas nos preços do setor de alimentação no atacado.

'Essa é uma lógica que serve para os resultados de todos os IGPs, que devem fechar o ano com taxa (anual) acima de 5%, mas não devem atingir 6,16%', disse.

Entre as quedas e desacelerações mais importantes estão as movimentações de preços em bovinos (de 5,11% para -2,23%); aves (de 5,47% para 0,16%); suínos (de 10,47% para 3,95%) e leite in natura (de 13,85% para 3,72%).

O impacto foi sentido fortemente pelo setor atacadista, cuja inflação passou de 1,96% para 1,64% de agosto para setembro.

Quadros observou que, no mesmo período, também houve perda de força na elevação de preços no varejo (de 0,42% para 0,23%) em decorrência da inflação mais fraca dos alimentos (de 0,99% para 0,19%). 'Mesmo assim, o aumento de preços no atacado foi três vezes mais importante que a alta menos intensa de preços no varejo', disse.

AMEAÇA

Entretanto, ao falar sobre os preços para o consumidor, o economista fez uma ressalva. O preço do pão francês no varejo é o que mais corre risco de forte alta nos próximos resultados dos IGPs, por causa do repasse das altas de preços sofridos pelo trigo no atacado.

De agosto para setembro, o preço do pão francês saiu de elevação de 1,42% para queda de 0,36%. 'Enquanto o preço do insumo (no caso, o trigo) está subindo no atacado, o preço do produto está caindo no varejo. Vai ocorrer repasse' disse, acrescentando que o preço do trigo subiu 12,77% em setembro, no atacado.

O setor da construção civil foi o único a registrar aceleração de preços (de 0,26% para 0,51%) de agosto para setembro, entre os três pesquisados para cálculo do IGP-DI. A inflação no setor foi pressionada pela disparada no preço do cimento, que subiu 5,01% no mês passado, ante aumento de 1,58% em agosto - a mais intensa desde janeiro de 2003.

Para Quadros, a demanda aquecida no setor de construção civil, aliada a algum problema de abastecimento na região Centro-Oeste, levou a esse resultado.