Título: Sem contato com a família, homem mora em abrigo
Autor: Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2007, Vida &, p. A27
Há 35 anos o ex-comerciante Francisco Menezes de Souza, de 80 anos, deixou a família e os filhos em Itacoatiara, a 177 quilômetros de Manaus. Seguiu o caminho comum do homem do interior do Amazonas que tenta a vida na capital. Não obteve sucesso, mas também não voltou mais nem deu notícias. Acabou internado em 1994 na maior instituição de longa permanência do Estado, a Fundação Dr. Thomas, em Manaus. Ao contrário do resto do País, na Região Norte os homens são maioria nos asilos: 70%.
'Uma das sete filhas vem me ver de vez em quando, mas dos outros não sei', diz. Ele mora em um pequeno quarto, entre lanchinhos e produtos de toalete que vende para aumentar a renda da aposentadoria, de um salário mínimo.
No Dr. Thomas, há hoje 73 homens e 43 mulheres. 'Sempre foi essa proporção ', diz a assistente social Érika Almeida. Para ela, isso reflete a história cultural do nortista, que costuma 'fazer família e abandonar'. 'A mãe acaba assumindo a família, e os filhos cuidam dela na velhice. A maioria das mulheres aqui é solteira ou viúva sem filhos.'
Em um abrigo menor de Manaus, o São Vicente de Paulo, há hoje 12 mulheres e 19 homens. O taxista aposentado João de Deus de Souza, de 84 anos, diz que perdeu a conta dos filhos que teve. 'Mas hoje não sei onde estão.'