Título: Por R$ 2 mil ao mês, atendimento vip
Autor: Roxo, Elisangela; Iwasso, Simone
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2007, Vida &, p. A28

Casas de repouso e até hotel são escolhidos como o novo endereço de quem não pode ou não quer viver sozinho.

A realidade das instituições clandestinas ou localizadas em regiões mais pobres, onde idosos vivem com pouca infra-estrutura, muda bastante quando se visitam os asilos mais caros, bem equipados e com profissionais especializados. É o outro lado dessa realidade, que tende a aumentar e se difundir nas grandes cidades.

'A gente ia por aí, tico-tico no fubá', diz Roque Tortamano, de 82 anos, sem sinais de melancolia sobre como aproveitou a vida quando era jovem. Ele conta que seus dias, em uma clínica geriátrica em Higienópolis, zona oeste, são preenchidos com leitura, reza e palavras cruzadas. Um dos prazeres do cotidiano no local é comer. 'A comida é uma fuga, uma distração, uma alegria', conta sorrindo.

Ele alugou seu apartamento há sete meses para dividir o quarto com dois outros internos. 'Aqui é minha casa agora. A próxima, Deus é quem sabe.'

Tortamano cultiva um bigode desde quando, ainda garoto, surgiram os primeiros fios. Solteiro e sem filhos, morava sozinho. Os sobrinhos visitavam-no,mas, com a chegada da idade, infecções também apareceram e ele começou a precisar de cuidados. Junto com a família, tomou a decisão de mudar para clínica. 'Estou muito bem.'

Cerca de R$ 2 mil reais são desembolsados para a mensalidade, que cobre o trabalho de enfermeiras 24 horas por dia, atendimento geriátrico por médicos, fisioterapia e terapia ocupacional.

Na mesma clínica, com ajuda de um andador, caminha R. C. V., de 82 anos. Ela foi professora e artista plástica. Como Tortamano, não casou, nem teve filhos. Quebrou o fêmur há cerca de um ano e, em novembro de 2006, mudou-se para a clínica. Cheia de orgulho, conta sobre exposições que fez em São Paulo e Aracaju, na década de 70. 'Gosto de desenhar cenas do cotidiano.'

A sala da clínica está repleta de borboletas de papel. Ela diz nunca ter se inspirado em obras de outros artistas, mas admira o traço de Paul Cézanne e o modo de perceber a luz dos impressionistas. 'Faço questão da forma perfeita, não das cores', explica.

VIDA DE HOTEL

'Não agüentava mais pensar no que seria o jantar', conta Regina Garbarz, de 73 anos, enquanto toma um chá preto no saguão do Alef Residencial, um hotel que atende exclusivamente a terceira idade. Ao contrário dos outros locais, que acomodam muitos idosos que precisam de cuidados constantes, nesse os moradores conseguem manter uma vida independente.

Há dois meses, ela e o marido resolveram fechar o apartamento em que viviam e mudar-se para o hotel, em operação desde julho, e pretende se tornar uma referência para esse perfil de idosos. 'Colocamos as opções na balança e vimos que seria melhor, até mesmo em relação aos gastos.'

Por mês, o valor mínimo cobrado por pessoa é de R$ 3.800. O idoso então terá direito a usufruir das duas piscinas, restaurante, café, internet, biblioteca, salão de jogos e salão de beleza. O objetivo do hotel não é dar atendimento médico, mas ser um estabelecimento com todo o suporte para quem pode precisar de cuidados.