Título: Um tabaco sem fumaça, mas nocivo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2007, Vida &, p. A31

Snus é divulgado como útil para reduzir consumo de cigarros, mas críticos afirmam que é ante-sala do vício.

'Estou realmente preocupado com a minha saúde', diz Jesper Froberg, um maitre de hotel que está tentando fumar menos. 'Esta coisa é mais segura que os cigarros.' Ele se refere ao snus, um tabaco moído, úmido, que o usuário coloca entre a bochecha e a gengiva. Embalado em pequeninas bolsas que parecem saquinhos de chá em miniatura, o snus é muito popular na Suécia.

Mas não é totalmente seguro. O snus contém nicotina e é tão viciante quanto os cigarros. Num teste clínico recente, também foi associado ao câncer pancreático.

Com a experiência sueca como referência, a indústria americana do fumo está vendo no snus uma alternativa menos perigosa e potencialmente lucrativa. A Philip Morris e a R. J. Reynolds começaram a fazer marketing de teste em todo o país com suas marcas mais famosas, Marlboro e Camel.

Mas lembrando a falsa premissa dos cigarros light, os críticos dizem que o tabaco sem fumaça é um Cavalo de Tróia para permitir que as companhias conservem os consumidores que, não fosse isso, poderiam abandonar completamente o fumo.

'Não há evidência científica de que o fumante consiga mudar para o tabaco sem fumaça e ficar nisso', diz Thomas Glynn, diretor da Sociedade Americana do Câncer.

A União Européia (UE) proibiu a venda do snus em 1992 - uma medida que quase comprometeu o processo de integração da Suécia à UE, até lhe ser concedida uma dispensa da norma.

Não existem tais restrições nos EUA, onde executivos do setor apontam para uma longa tradição do tabaco para mascar. Além disso, dizem eles, o snus é menos nocivo que a versão americana, o dip, que é fermentado em vez de pasteurizado, e pode causar câncer bucal.

'Creio que o mercado é potencialmente enorme', diz Lennart Freeman, presidente da divisão para a América do Norte da Swedish Match, que vende 250 milhões de latinhas de snus por ano na Suécia, onde é líder. A companhia está agora vendendo seu produto em tabacarias de Nova York, Chicago e outras cidades americanas.

Na Suécia, o snus está presente há quase 200 anos, e nos últimos 20 tem havido um ressurgimento da sua popularidade. Poucos duvidam de que ele causou impacto nos hábitos do fumo, ao menos entre homens. Em 1976, 43% dos suecos fumavam regularmente. Em 2005, 14%. Nesse período, a porcentagem de homens que consomem snus saltou de 9% para 22%. Estima-se que 5% dos homens suecos deixaram completamente de fumar quando optaram pelo snus.

'Se você tem um produto que funciona bem para deixar de fumar, por que não usá-lo?' pergunta o oncologista Lars Rutqvist, vice-presidente de assuntos científicos da Swedish Match. 'As sociedades deviam adotar todas as medidas que fossem eficazes para combater doenças relacionadas ao fumo.'

Essas afirmações - para não mencionar sua recente decisão de aceitar emprego numa empresa de tabaco - colocaram Rutqvist em choque com colegas da comunidade médica sueca.

'Se você torna isso amplamente acessível, como poderá garantir que não será usado como uma porta para o fumo?', diz Olof Nyren, um epidemiologista do Instituto Karolinska em Estocolmo.

O snus contém nitrosaminas, os mesmos compostos químicos causadores de câncer presentes em cigarros, mas em níveis mais baixos.