Título: Pedagiadas são as melhores do País
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2007, Economia, p. B7

Todas as 20 rodovias que aparecem na pesquisa anual de qualidade da CNT cobram pelo menos um pedágio

Renée Pereira

As estradas pedagiadas estão no topo da lista das melhores do País. Todas as 20 rodovias que aparecem na pesquisa anual da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) têm pelo menos um pedágio, sendo 17 delas concedidas à iniciativa privada e 3 sob gestão estatal. Para contar com a qualidade dessas estradas, que têm pavimentação bem cuidada e bons serviços de atendimento ao usuário, os consumidores pagaram entre 2002 e 2006 cerca R$ 20 bilhões em pedágios.

O presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), Moacyr Servilha Duarte, afirma que, desde o início do programa de privatização das estradas, por volta de 1996, as empresas detentoras de concessões já investiram R$ 12 bilhões em obras de ampliação e manutenção, equipamentos e veículos e sistemas de operação.

Além disso, diz ele, essas companhias já gastaram cerca de R$ 10,7 bilhões com despesas operacionais para manter as vias em perfeitas condições, como limpeza das estradas e despesa com socorro de veículos, entre outros. 'Isso significa que os governos economizaram mais de R$ 22 bilhões com a manutenção e atendimento das estradas brasileiras', diz Duarte.

Ele argumenta que a melhora do estado geral das rodovias representa uma expressiva redução de custos para o consumidor, além da diminuição do tempo de viagem. Apesar do preço alto dos pedágios, muitos motoristas aprovam os benefícios decorrentes do avanço na qualidade das estradas. A consultora Márcia Rodrigues afirma que não há como fazer comparações entre uma estrada privatizada e outra que continua nas mãos do governo.

Ela usa com freqüência as rodovias Fernão Dias (BR-381), que será leiloada na terça-feira, a Bandeirantes e a Castelo Branco (ambas privatizadas). 'É uma diferença brutal. A Fernão Dias mal tem serviço de assistência e a sinalização é péssima, além da quantidade de buracos. Já a Bandeirantes é super bem estruturada, com ótima sinalização e bem conservada', diz a consultora, que tem aumentado a freqüência de alinhamento e balanceamento do carro por causa das viagens pela Fernão Dias. 'Prefiro mil vezes ter uma rodovia com pedágio, mas que me dê segurança.'

Dados da ABCR mostram que o número de acidentes nos trechos concedidos tem caído, apesar de ainda ser elevado. Em 2006, ocorreram 54.746 acidentes nas rodovias concedidas, ante 59.397 em 2005 , um recuo de 7,8%. A associação destaca, porém, que nesse período houve aumento de 2,1% no tráfego de veículos nas praças de pedágio. O número de mortos caiu 11,5%, de 1.536 para 1.359.

Um dos exemplos mais marcantes na redução de acidentes, avalia a ABCR, é o da Via Dutra (BR-116), a primeira das rodovias repassadas à administração privada. O número de mortos em acidentes diminuiu de 520 por ano, quando administrada pelo poder público, para cerca de 250 após a concessão.

Segundo Duarte, as concessionárias a cada dia estão trazendo mais tecnologia para as rodovias brasileiras. Na pavimentação, estão introduzindo os asfaltos modificados por polímeros e borracha de pneus moídos. Além de ser 40% mais resistente que o asfalto convencional, a alternativa amplia a segurança dos usuários.

Há ainda as inovações referentes à operação. Quase todas as concessionárias mantêm sistemas de controle das estradas a cada quilômetro, com câmeras de circuito fechado de TV durante 24 horas por dia. Por meio desses sistemas, conseguem monitorar tudo que ocorre nas rodovias, detectar acidentes e enviar equipes de resgates num curto espaço de tempo, podendo salvar vidas.

Hoje, os 9.834 km de estradas concedidas para a iniciativa privada contam com 4.190 call boxes (sistema de telefonia de emergência para rodovias), 1.757 cabines e 994 circuitos de controle por meio de TV (CCTV), entre outros números. 'Acredito que a melhora significativa que podemos verificar nas rodovias concedidas deve-se ao fato de as empresas serem especialistas no assunto e estarem focadas nesse negócio', completa o presidente da ABCR.

Os 2.580 quilômetros de extensão dos sete lotes de rodovias que serão concedidos à iniciativa privada na terça-feira deverão ter um expressivo salto de qualidade nos próximos anos. A expectativa é de que, nos 25 anos de concessão, as empresas vencedoras invistam cerca de R$ 20 bilhões na melhoria das vias e duplicação de áreas consideradas de alto risco, como é o caso da Serra do Cafezal, na BR-116, em São Paulo.

O governo federal poderá economizar esse dinheiro e gastar em outras áreas importantes para o País, como saúde e educação. Ou usar o dinheiro poupado para melhorar outros trechos de estradas consideradas precárias.