Título: Sapatos brasileiros com design ganham espaço. Até na China
Autor: Dantas, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2007, Economia, p. B21

Movimento de exportação ainda é pequeno, mas entusiasma fabricantes e inverte a rota do comércio exterior.

A China, concorrente poderoso e ameaçador para grande parte dos fabricantes nacionais de calçados, começa a virar alvo das indústrias de sapatos com design, mais elaborados e sofisticados. O movimento de exportação ainda é pequeno, mas se expande aos poucos e entusiasma empresas como a gaúcha Schutz, que há três anos vende para os chineses, a Arezzo, prestes a tirar do papel um projeto de franquia para abertura de 300 lojas na China, e grifes como as de Francesca Giobbi e Serpui Marie.

Abrir as portas do mercado chinês é o desafio também da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), que planejou uma missão comercial na Ásia. Um grupo formado por nove empresas médias do setor calçadista, acompanhado por representantes da Abicalçados, viajou na semana passada para participar de feiras em Hong Kong, Pequim e Tóquio e visitar os principais pólos produtores da Ásia.

'Vamos buscar mercado e parceiros em cidades como Pequim e Xangai, com uma população de maior poder aquisitivo', diz o consultor comercial da Abicalçados, Enio Klein. Ele observa que nos Estados Unidos e na Europa a população levou entre 100 e 200 anos para migrar do campo para a cidade, enquanto na China esse movimento vem ocorrendo em apenas 20 anos. 'É essa transformação que tem feito com que o consumo cresça assustadoramente', diz. 'Eles precisam de fornecedores e há uma brecha para entrarmos no mercado asiático.'

A fresta para a entrada é o produto sofisticado, com conceito de moda e design moderno e arrojado. 'A mulher chinesa está num processo de afirmação e quer se vestir e se apresentar melhor. Elas gostam de luxo e são consumidoras das grandes grifes européias.'

As exportações brasileiras de calçados para a China são modestíssimas perto dos 89,8 milhões de pares de calçados chineses que desembarcaram legalmente no País até agosto.

O Brasil vendeu para os chineses, de janeiro a agosto, 58,6 mil pares de sapatos, com faturamento de US$ 926,2 mil. No mesmo período do ano passado, foram embarcados 55,9 mil pares, com faturamento de US$ 802,9 mil.

A Schutz, que está no mercado mundial há seis anos e exporta para mais de 50 países, vai vender este ano para a China 38 mil pares de calçados. O volume é 50% superior a 2006 e deve avançar ainda mais no próximo ano. A empresa vende para a loja de departamentos chinesa Lane Crawford, de produtos sofisticados, e acaba de assinar contrato com a Zsa Zsa, que possui 500 lojas nas maiores cidades do país. Os sapatos da Schutz, que custam em torno de R$ 230 no Brasil, são vendidos em média por US$ 120 na China. É uma faixa muito acima do calçado barato, que nas exportações em geral estão sendo afetados pela desvalorização do dólar frente ao real.

Mesmo vendendo um sapato de maior valor, o presidente da empresa, Alexandre Birman, está preocupado com o câmbio. 'Viajei no dia 15 de setembro com o dólar a R$ 1,94 e voltei com ele a R$ 1,84. Se a cotação cair para R$ 1,80 inviabiliza o negócio.' Ele já planeja em dois anos entrar no mercado mais luxuoso com a marca Alexandre Birman, na faixa de US$ 350.

A Arezzo inaugura as primeiras 12 lojas de franquia no território chinês em 2008 em parceria com o grupo Prime Success. O projeto da companhia brasileira é ambicioso. A empresa planeja ter 300 pontos-de-venda nas principais cidades do país em 10 anos. A expectativa é que cada loja fature em torno de US$ 50 mil. 'O produto estrangeiro é objeto de desejo entre os chineses de classe média alta e alta e é para esse público que vamos vender sapatos, na linha premium. Eles vão custar entre US$ 180 e US$ 200', diz o gerente de exportação da Arezzo, Fábio Figueiredo.

EXUBERÂNCIA

O aeroporto de Xangai, cheio de jatos particulares, a arquitetura moderna e exuberante da cidade e as lojas de multimarcas que vendem sapatos de grifes de luxo fascinaram a estilista de calçados Francesca Giobbi. 'Visitei todos os lugares bacanas no começo do ano passado e fiquei muito impressionada. Imagine, a cidade tem 3 milhões de milionários.' Sem dúvida, admite, um mercado e tanto para quem, como ela, vende sapatos para a Europa e Japão por preços que vão de US$ 800 a US$ 1.200.

Francesca ainda não fechou negócios com distribuidores chineses. 'Estou na fase do namoro.' Ela explica que eles viram as amostras e estão interessados em encomendas para a próxima coleção. A aposta da estilista é no diferencial de seus produtos para conquistar consumidores chineses ricos.

Os sapatos Francesca Giobbi calçam celebridades nacionais e internacionais como Paris Hilton,Carolina Dieckman e Guilhermina Guinle e são feitos artesanalmente. Ela produz cerca de 100 pares por dia, mas quer aumentar o volume para reduzir custos e expandir as vendas. 'Quero exportar o mesmo tipo de calçado por US$ 600.'

A grife Serpui Marie desembarcou em território chinês há 12 anos. As bolsas, sapatos e acessórios da marca, são oferecidos em duas grandes redes da China: Seibu, com 40 lojas, e Lane Crawford, com cerca de 70 pontos-de-venda. São idênticos aos que ela vende nas lojas sofisticadas de Paris ou Dubai. 'Quem compra meus sapatos e bolsas é o mesmo consumidor chinês que compra Chanel, Prada e outras grifes européias', diz Serpui Marie Ekizlerian. Não é uma venda volumosa. 'São 30 a 40 peças por coleção, com preços de US$ 100 a US$ 200. Mas estou à procura de um distribuidor para aumentar as vendas.' Para o Japão, onde tem um agente, ela exporta de 200 a 300 peças por coleção.