Título: Compra do ABN cria 3º maior banco brasileiro
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2007, Economia, p. B1

Itaú perde posição; novo banco fica atrás apenas do BB e do Bradesco

A compra do ABN Amro pelo consórcio formado pelo espanhol Santander vai provocar uma reviravolta no ranking do setor bancário brasileiro. O primeiro a ser incomodado pela maior negociação do mundo nessa área financeira é a instituição da família Setubal. O Itaú, hoje segundo maior banco privado do País, será desbancado pela nova instituição formada por Santander e ABN Amro Real, que também ficará no calcanhar do Bradesco, maior privado brasileiro (ver ao lado). No ranking geral, com os bancos estatais, o Santander será o terceiro maior do País, atrás de Banco do Brasil e Bradesco.

Segundo levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, com a aquisição, o Santander passará a contar com ativos da ordem de R$ 277 bilhões, valor superior aos R$ 255 bilhões do Itaú e menor que os R$ 290 bilhões do Bradesco. Com números tão próximos, as três instituições devem travar uma briga acirrada por fatias do mercado nacional, o que pode beneficiar os clientes. ¿A operação vai forçar os outros bancos a adotarem estratégias mais agressivas de crescimento¿, avalia o analista da Lopes Filho, João Augusto Salles.

Na opinião dele, a saída será comprar outras instituições. ¿Há até boatos no mercado de que os dois maiores rivais do País, Bradesco e Itaú, estariam se unindo para fazer uma proposta pelo Unibanco, sempre um alvo de compra¿, afirma o analista, destacando que todo banco é ¿vendável¿. ¿Depende da proposta.¿ O presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, tem opinião semelhante. Ele acredita que os bancos médios estarão na mira dos gigantes do setor a partir de agora. ¿A mudança no ranking mexe no ego dos bancos. Eles ficarão mais atentos a compras.¿

Outro efeito da aquisição do ABN será o aumento de concentração do setor bancário brasileiro. Levantamento da Austin Rating mostra que as cinco maiores instituições do País (Banco do Brasil, Bradesco, Santander + ABN, Itaú e Caixa) passarão a deter 66% dos ativos totais dos bancos no País ante 60,5%, no desenho anterior. Em relação ao volume de depósitos, a concentração subirá de 65,8% para 70%. Já no total de crédito, subirá de 61,5% para 66,9%.

Mas o levantamento mostra que, apesar de ocupar o segundo lugar entre os privados, o Santander ficará atrás de Bradesco e Itaú no volume de crédito. Nada que um esforço de vendas não possa mudar a situação. O total de crédito do Itaú somou R$ 95,5 bilhões em junho ante R$ 94 bilhões da fusão de Santander e ABN. A carteira de crédito do Bradesco é da ordem de R$ 108 bilhões.

A segunda colocação do Santander (um banco estrangeiro) no ranking de ativos é um fato inédito no setor bancário brasileiro. Segundo Rodrigues, a compra do ABN vai complementar os negócios do banco espanhol no Brasil, onde detém maior participação no eixo Rio-São Paulo. Com o ABN, ele passará a ter maior representatividade no País inteiro, o que significa maior escala e maiores lucros.

FUNCIONÁRIOS

Para os funcionários dos dois bancos, no entanto, o fechamento do negócio pode significar a perda de empregos. De acordo com fontes do setor, o Santander já prepara nos bastidores um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que pode atingir entre 2 mil e 4 mil pessoas no Brasil. Esse programa começaria com funcionários em fase de aposentadoria, mas deve se estender aos demais empregados.

A área de vendas dos dois bancos continuaria independente, mas a retaguarda (administração) seria unificada. Hoje, o número de funcionários do Santander é da ordem de 22 mil e o do ABN Amro Real, de 31 mil. De olho nesses possíveis cortes, alguns empregados do ABN já estão fazendo suas malas rumo a outras instituições.

A fusão também deverá passar por análise criteriosa do Banco Central e do Conselho de Administração de Defesa Econômica, que já mandou recado para os negociadores.