Título: Governo fortalece o BB para manter liderança
Autor: Graner, Fabio., Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2007, Economia, p. B7

Objetivo da operação de incorporação de bancos estaduais é tornar o BB um instrumento de regulação do mercado bancário

Mais do que uma disputa por ampliação de mercado, o movimento de incorporações conduzido pelo Banco do Brasil (BB) tem um forte componente de política econômica. Segundo fontes do governo, o objetivo central da estratégia é solidificar a liderança do BB no sistema financeiro. Assim, o governo terá um poderoso instrumento regulador do mercado bancário, permanente alvo de preocupação da equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

¿O BB, sendo líder, tem a responsabilidade de ser um regulador, um balizador do mercado em termos de juros e tarifas. É uma referência¿, afirmou uma fonte. Vale lembrar que, no momento, o governo se debruça em estudos para forçar os bancos a conterem seu ímpeto na cobrança de tarifas. Com instituições públicas fortes que induzam a competição, a equipe econômica acredita ter mais possibilidades de sucesso nessa estratégia. ¿Com os bancos públicos, o governo pode pressionar mais a Febraban¿, disse a fonte.

O início formal da incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) pelo Banco do Brasil é o marco de uma atitude claramente mais agressiva do BB, em um ambiente de acirramento da concorrência no mercado bancário. Impedido de fazer aquisições e vendo seus concorrentes do setor privado ganhar musculatura no processo de fusões e aquisições, o BB partiu para o ataque, buscando incorporar instituições financeiras estaduais federalizadas ou envolvidas em problemas, como é o caso do Banco de Brasília (BRB).

A avaliação é que um banco com capilaridade maior tem mais poder de estimular a competição no mercado, objetivo central do governo. É aí que se encaixa a estratégia de incorporação de bancos estaduais, explica uma das fontes. Essas instituições têm vantagens importantes a oferecer ao BB: uma forte e espraiada presença em seus Estados, quantidade significativa de clientes e, o mais atraente, a folha de pagamentos do serviço público estadual.

Como o ritmo de bancarização é limitado pelo crescimento da economia e a disputa por clientes de outras instituições custa caro, os bancos têm atuado fortemente no mercado de administração da folha de pagamentos do setor público. Esse instrumento permite a incorporação de significativa massa de clientes, com um nível de renda não desprezível, que podem adquirir outros produtos dos bancos, ampliando o faturamento das instituições.

É por isso que, além de incorporar instituições estaduais, o BB também tem sido agressivo na disputa por grandes folhas de pagamento, como as recém-conquistadas do Maranhão e da Bahia. Ambas foram tomadas do Bradesco, o maior banco privado do País.

Nessa estratégia de política econômica, a Caixa Econômica Federal também vem, aos poucos, mudando a sua forma de atuação e avançando em novos mercados de crédito. Ao mesmo tempo, tem nas mãos um grande diferencial que o governo acredita que será muito importante daqui para frente: os clientes que estão sendo incorporados pelo programa de bancarização do governo com o Caixa Fácil - a conta que tem abertura simplificada.

Já são 5 milhões de clientes. ¿É um outro banco¿, disse uma fonte da Caixa. A meta é chegar a 20 milhões em cinco anos. Com o aumento esperado de renda dessas pessoas, puxado pela expansão da economia, a Caixa pretende colher os frutos da fidelização de clientes que estavam alijados do sistema financeiro. A importância do mercado das classe D e E, que abre fronteiras para a ampliação do crédito, só agora está sendo descoberta pelos outros bancos.