Título: Países ricos pressionam Mercosul
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2007, Economia, p. B14

EUA, UE e Japão querem maior abertura industrial

Estados Unidos, União Européia e Japão se recusam a permitir que o Mercosul mantenha certas barreiras como resultado da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, Brasil e Argentina defenderam que flexibilidades fossem garantidas para permitir que setores mais sensíveis da indústria do bloco não fossem liberalizados. Uruguai e Paraguai, porém, ainda não deram apoio à proposta do Mercosul.

A idéia do Brasil e da Argentina é assegurar que os setores considerados como mais sensíveis à concorrência externa não sejam afetados por uma liberalização numa união aduaneira. Ontem, os governos dos Estados Unidos e Europa insistiram que os países emergentes precisarão abrir seus mercados para bens industriais se quiserem que Washington e Bruxelas façam concessões no setor agrícola.

O Itamaraty foi à reunião preparado para não apenas resistir à pressão dos países ricos, mas também para alertar que, enquanto não houver avanços nos debates agrícolas da OMC, não haverá por que falar em novos números nos cortes de tarifas industriais.

Os países ricos querem que os emergentes cortem em pelo menos 66% suas tarifas de importação. Já um grupo formado por Brasil, África do Sul, Índia e Argentina alegam que não poderiam aceitar um corte acima de 50%. Ontem, porém, brasileiros e argentinos foram além e sugeriram que uniões aduaneiras, como o Mercosul, ganhassem certos privilégios e pudessem escolher um número maior de setores que seriam declarados como sensíveis.

Washington deixou claro que essa concessão não se justificaria. Mas também alguns países em desenvolvimento, como Turquia e Colômbia, atacaram a proposta. O que chamou a atenção dos negociadores é que o Paraguai e Uruguai, membros do Mercosul, optaram por não se pronunciar na defesa da proposta do Brasil. Mais tarde, um diplomata de Assunção reconheceu que os dois membros menores do bloco ainda estão avaliando a proposta e não estavam em condições de apoiá-la.

Brasil e Argentina, agora, terão de continuar a convencer os países ricos de que precisam da flexibilidade, enquanto tentarão convencer Uruguai e Paraguai a aceitar a proposta.

CLIMA

Fora das salas de negociações, um debate com cerca de 200 fazendeiros, empresários, acadêmicos e lobbistas na OMC deixou claro que a falta de entendimento entre os governos é uma realidade. ¿Tudo indica que sentiremos mais rápido os efeitos da mudança climática que da liberalização na agricultura¿, ironizou o ministro-conselheiro do Itamaraty, Paulo Mesquita. Para os representantes americanos e europeus no debate, concessões suficientes já foram feitas pelos países ricos.