Título: Abbas quer Lula no processo de paz
Autor: Sant¿Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2007, Internacional, p. A28

Presidente palestino pediu a Bush inclusão do brasileiro na conferência de paz programada para o mês que vem

A Autoridade Palestina quer a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião de cúpula sobre o conflito árabe-israelense, marcada para o dia 15 de novembro em Annapolis, nos Estados Unidos. O pedido foi feito por Mahmud Abbas a George W. Bush no encontro entre os presidentes da AP e dos EUA no dia 24, na véspera da abertura da Assembléia-Geral da ONU, em Nova York.

¿Francamente, ainda achamos que os Estados Unidos estão totalmente tendenciosos em favor de Israel¿, explicou ontem ao Estado o deputado Abdullah Abdullah, presidente da Comissão Política do Parlamento palestino. ¿Precisamos de forças que possam descongelar essa situação, que sejam mais objetivas. O Brasil é um símbolo de unidade, de pluralidade de religiões e de etnias. Por causa de sua paz interna, está em paz com todos os seus vizinhos.¿ Abbas e Lula também se reuniram em Nova York.

Bush não deu uma resposta imediata ao pedido. Os palestinos esperam que a secretária de Estado, Condoleezza Rice, leve o esboço de uma lista de participantes da reunião de cúpula, quando for a Ramallah, sede da Autoridade Palestina, na semana que vem. Abbas também propôs a participação da África do Sul, da Índia e da Malásia, que ocupa a presidência de turno da Organização da Conferência Islâmica.

Abdullah, que veio ao Brasil a convite da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa da Câmara dos Deputados, para falar das relações entre o Brasil e a Palestina e da situação no Oriente Médio, disse que, pelas perguntas dos parlamentares brasileiros, percebeu que eles têm uma ¿visão clara¿ da realidade na região. ¿Apreciamos a atitude do Brasil em aceitar os refugiados¿, disse Abdullah, referindo-se aos 117 palestinos acampados no campo de Ruweished, na fronteira da Jordânia com o Iraque desde 2003, que estão sendo recebidos nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul (ontem chegou a São Paulo mais um grupo de 36 refugiados). ¿Esperamos que seja provisório, que eles possam voltar para casa.¿

Reconhecendo que o direito de retorno dos cerca de 5 milhões de refugiados palestinos é um assunto delicado, Abdullah não quis estipular um prazo para isso. Deputado por Jerusalém, onde nasceu há 68 anos, o próprio Abdullah só pode ir à cidade com autorização israelense. É um dos temas árduos de um eventual processo de paz entre palestinos e israelenses, que o presidente Bush pretende lançar em novembro. Os palestinos também reivindicam a retirada dos 400 mil colonos judeus da Cisjordânia, a demolição do muro que a isola de Israel e a administração de Jerusalém Oriental. Mas Abdullah garante que a AP será ¿flexível¿ nas negociações.

Quanto à posição americana, Abdullah vê alguns sinais positivos. Ele assinala que será a terceira visita de Condoleezza à região em dois meses, e que Bush fez um discurso ¿positivo¿ na quinta-feira na Pensilvânia, no qual defendeu esforços para a criação de um Estado palestino ¿em termos práticos, não apenas em palavras¿.

Provocado sobre se não está ficando mais fácil negociar com os americanos do que com o grupo fundamentalista islâmico Hamas, Abdullah, que pertence à facção secular Fatah, disse que rejeita a comparação. ¿O Hamas é como um irmão malcriado¿, definiu. ¿Eles introduziram uma nova linha na política palestina: o respaldo divino. Não aceitam críticas.¿

Abdullah disse, no entanto, que tem absoluta certeza de que o Fatah e o Hamas serão capazes de chegar a um acordo e de voltar a formar um governo juntos. As direções das duas facções não se falaram mais depois que o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza, em junho. ¿Não quisemos uma guerra civil, mas eles terão de reconhecer a legitimidade das instituições, pedir perdão pelo que fizeram, e os que cometeram crimes serão presos e julgados¿, enumerou Abdullah. ¿Será o único caminho para trazer paz à sociedade palestina.¿

Segudo ele, o Hamas acabará trilhando esse caminho: ¿Eles estão se dando conta das responsabilidades do exercício do poder¿, disse Abdullah, recordando que o grupo islâmico não executou mais atentados suicidas e que se tem mostrado aberto a negociações com Israel, por meio de contatos indiretos.