Título: Clima propício a maior parcimônia
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2007, Economia, p. B2

Se o Comitê de Política Monetária (Copom) não reduzir a taxa básica de juro (a Selic) em sua próxima reunião, marcada para os dias 16 e 17 deste mês, é muito provável que ninguém dentro do governo Lula reclame. Nem mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A razão para isso é simples: todos estão felizes com o atual crescimento da economia, em torno de 5%. A preocupação agora passou a ser de outra ordem. Os governistas temem que o descontrole da inflação possa ameaçar o atual ritmo de crescimento. Eles gostariam de manter a expansão econômica de 5% até 2010, pois acreditam que este é o cenário ideal para que Lula faça o seu sucessor.

O debate técnico sobre a taxa de juro está dando lugar a avaliações políticas, que refletem o temor de que atitudes mais ousadas do Banco Central possam colocar em risco o crescimento econômico tão duramente conquistado. Até mesmo o argumento de que o Brasil não tem infra-estrutura suficiente para expandir sua economia em mais de 5% ao ano está sendo usado em defesa de uma atitude 'mais cautelosa' do BC na questão dos juros. O ambiente dentro do governo está, portanto, favorável a que 'a flexibilização da política monetária passe a ser conduzida com maior parcimônia', como tem sugerido o Copom em suas atas.

Há também razões técnicas que sustentam essas avaliações políticas. A principal delas é o repique inflacionário das últimas semanas. Ganha força dentro do governo o entendimento de que as recentes elevações de preços refletem sim uma forte expansão da demanda interna. Um exemplo usado para dimensionar essa demanda é a disparada do preço do cimento.

Em alguns lugares, o produto chegou a faltar. Isto reflete, em parte, o 'boom' da construção civil este ano. Mas reflete também um comportamento típico dessas épocas: a indústria de cimento aproveita a forte demanda para elevar sua margem de lucro. O temor é o de que outros setores façam o mesmo.

Os números divulgados na semana passada pelo IBGE sobre a atividade industrial fortaleceram essa percepção. Em agosto, a indústria cresceu 6,6% em relação ao mesmo mês do ano passado e a previsão é de que o comportamento em setembro será ainda melhor. Em suas atas, o Copom tem alertado sobre a defasagem entre a implementação da política monetária e seus efeitos sobre o nível de atividade e sobre a inflação.O BC estima que essa defasagem é hoje de 9 meses.

Ou seja, a redução dos juros feita a partir de março ainda não se refletiu na economia e nem nos preços.

Se a avaliação do BC sobre a defasagem da política monetária estiver correta, a demanda ficará ainda mais forte nos próximos meses. Ou seja, já está contratado um aumento do consumo que poderá, no curto prazo, ter efeitos negativos sobre os preços.

A manutenção da taxa de juros está sendo vista por alguns setores do governo não apenas como uma atitude de cautela, mas também como uma parada necessária para que os investimentos feitos pelos empresários possam maturar e, assim, elevar a oferta de bens e serviços. Os dados do IBGE referentes a agosto mostraram um aumento de 21% na produção de bens de capital sobre o mesmo mês do ano passado.

Outro fator que recomenda cautela, segundo essa mesma análise, é a política fiscal altamente expansionista praticada pelo governo Lula. De janeiro a agosto, as despesas do Tesouro Nacional cresceram, em média, 13,3% em relação a igual período de 2006. Este ano, elas aumentarão, novamente, em ritmo superior ao do crescimento da economia.

A política fiscal é um sério constrangimento à execução da política monetária pelo BC, segundo essa análise, pois reforça a expansão da demanda agregada. O controle dos gastos públicos abriria espaço, de acordo com esse entendimento, para um corte mais forte dos juros.

As avaliações políticas que estão sendo feitas dentro do governo deixarão o Copom livre para fazer uma análise puramente técnica do comportamento futuro da taxa de juro.

Regulamentação da emenda 29

O senador Tião Viana (PT-AC) esclareceu que o seu projeto de lei complementar que regulamenta a emenda 29, definindo os recursos mínimos para as ações e serviços públicos de saúde, é anterior ao apresentado pelo ex-deputado Roberto Gouveia (PT-SP). O projeto de Viana foi aprovado, com mudanças, pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), na semana passada.Este colunista informou aqui, na última semana, que Viana apresentou o seu projeto em março deste ano e Gouveia em 2003. De fato, isto aconteceu. Mas Viana explicou que o seu projeto de 2002 teve que ser reapresentado, pois o regimento interno do Senado determina que ao término de cada legislatura as matérias não aprovadas sejam arquivadas.