Título: PSDB e DEM preparam quinta representação
Autor: Scinocca, Ana Paula., Fontes, Cida.,Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2007, Nacional, p. A5
Oposicionistas querem que Conselho de Ética investigue acusação de espionagem envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros
O PSDB e o DEM vão entrar hoje com mais uma representação contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PSDB-AL). Os partidos cobram apuração das denúncias de que o peemedebista tentou montar um dossiê, recorrendo a arapongagem, para intimidar os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO).
Será o quinto pedido de investigação por quebra de decoro. Do primeiro ele conseguiu ser absolvido no plenário do Senado, por 40 votos a 35 e 6 abstenções - era acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior. A segunda representação, que está paralisada a pedido do relator, refere-se a suposto favorecimento à cervejaria Schincariol perante a Receita Federal e o INSS em troca da compra superfaturada de fábrica de refrigerantes de sua família. A representação de número três, que trata da suposta compra de duas rádios e um jornal em Alagoas por intermédio de laranjas, deve ter o relator indicado hoje pelo presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO). O quarto pedido, que aponta suposta coleta de propina em ministérios do PMDB, teve seu relator definido na semana passada: será o senador Almeida Lima (PMDB-SE), da tropa de choque do presidente do Senado.
¿Do jeito que está, não dá mais. Vamos pedir imediata indicação de relator. O Senado virou o centro de patifaria e canalhice, não dá mais¿, afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), referindo-se à nova denúncia. ¿Vamos dar direito de defesa a Renan, mas dificilmente os argumentos que ele vai apresentar serão suficientes¿, acrescentou o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN). Inicialmente, ele iria esperar até hoje para definir uma posição, mas decidiu apoiar o pedido após conversar com Demóstenes e Tasso.
¿Se o Renan está negando, e diz não ter nada a ver com isso, ele tem de mostrar e, no mínimo, demitir o funcionário (Francisco Escórcio)¿, disse Demóstenes, numa referência ao assessor de Renan acusado de espionar parlamentares. Ele confirmou que ficou sabendo da espionagem por Pedrinho Abrão, empresário e ex-deputado. Demóstenes esteve com Abrão em 28 de setembro, que lhe revelou ter sido procurado por Escórcio. Segundo ele, o assessor queria instalar câmeras em um hangar no Aeroporto de Goiânia, para produzir provas contra os senadores.
Os dois partidos decidiram pedir reunião de urgência da Mesa Diretora, que decidirá pela aceitação do pedido, e também vão solicitar a convocação imediata do Conselho de Ética.
REAÇÃO
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, defendeu ontem a imediata abertura de investigação tanto no Congresso como na Polícia Federal sobre a nova denúncia contra o presidente do Senado. ¿É extremamente grave qualquer informação de que no País se vive um estado de big brother, de bisbilhotice¿, criticou.
O ministro da Justiça, Tarso Genro, informou, por meio da assessoria, que aguarda ser acionado pelo Congresso para definir se a nova denúncia traz elementos suficientes para a abertura de inquérito. Ele não quis comentar o episódio antes de ter conhecimento pleno dos fatos.
De acordo com o presidente da OAB, no entanto, os fatos relatados por Demóstenes e Perillo são suficientes para o início da investigação. ¿Não tenho a menor dúvida de que o caso deve ser investigado a fundo.¿
Britto disse que a espionagem privada com fins espúrios é crime, com agravantes quando o objetivo é intimidação ou chantagem política. ¿Precisamos entender que o respeito à dignidade humana passa necessariamente pela segurança da intimidade do cidadão, que não pode ser violada por um jogo político¿, argumentou.¿