Título: Brasil domina a técnica genética, mas não a aplica
Autor: Amorim, Cristina
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2007, Vida&, p. A16
O Brasil teria atualmente capacidade técnica para produzir seus próprios modelos animais nocauteados para estudos científicos. Contudo, o custo e o tempo envolvidos levaram os brasileiros a preferir importar camundongos que podem custar US$ 50 mil, dizem especialistas.
¿Um transgênico não custa menos do que US$ 30 mil, US$ 40 mil. Construções (de células) para nocaute demoram às vezes um ano. O rendimento é muito baixo. É preciso investir não só dinheiro, mas também tempo e trabalho¿, diz Eliana Abdelhay, hoje no Instituto Nacional de Câncer (Inca), e ex-pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). ¿No Brasil, todo mundo é mais imediatista, quer resultados rapidamente.¿
A produção de camundongos desse tipo passa por três frentes: capacidade técnica, infra-estrutura e dinheiro. A primeira, diz Lygia da Veiga Pereira, geneticista na Universidade de São Paulo, não é o problema. ¿É uma questão de interesse. Se a gente tivesse uma demanda grande, haveria um sistema mais eficiente.¿
No início da década de 1990, elas estudavam fora do Brasil - Eliana no Instituto Pasteur, na França, e Lygia na Faculdade de Medicina Mount Sinai, nos Estados Unidos - quando a ferramenta virou febre nos laboratórios estrangeiros. Ao retornarem, trouxeram o conhecimento na bagagem e produziram camundongos com genes nocauteados aqui. ¿O primeiro camundongo a gente demorou três anos, porque fizemos as nossas próprias células embrionárias. O segundo saiu já um ano depois¿, conta Lygia. ¿Como não houve mais interesse, a gente não tinha como manter a estrutura.¿