Título: Temporão quer regular banco privado de cordão umbilical
Autor: Cimieri, Fabiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2007, Vida&, p. A17
Ministro da Saúde criticou ontem propaganda enganosa dessas empresas
O Ministério da Saúde irá regular a propaganda para coibir abusos cometidos pelos bancos privados de sangue do cordão umbilical, avisou ontem o ministro José Gomes Temporão, durante a inauguração do novo banco de armazenamento de células-tronco do cordão no Instituto Nacional do Câncer (Inca). ¿Vamos coibir abusos e garantir que (os bancos privados) se insiram dentro de uma estrutura nacional vinculada à perspectiva de saúde pública¿, afirmou, acrescentando que não existe hoje comprovação científica do uso terapêutico dessas células.
O armazenamento desse material virou item de enxoval de grávidas que podem pagar entre R$ 4.000 e R$ 5.000 pela coleta do material e R$ 500 a R$ 1.000 por ano para mantê-lo congelado em nitrogênio líquido a - 200 ºC.
Mas, ao contrário do que afirma a propaganda dessas empresas - a promessa de uma alternativa terapêutica segura para a cura de uma infinidade de doenças genéticas -, a comunidade científica internacional não recomenda o procedimento em bancos privados. Países como França e Espanha proíbem sua existência.
A única eficácia comprovada é em transplantes de medula óssea. Mesmo nesses casos, o material não pode ser usado pela própria criança porque a predisposição à doença já estaria em seu material genético. Um irmão saudável poderia doar para o doente, mas os bancos privados são regulados por uma norma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que só permite o uso autólogo, ou seja, no próprio paciente.
APERTO NECESSÁRIO
¿O ministro tem razão, existem abusos. Adoraríamos ver um aperto na legislação¿, disse Roberto Waddington, presidente da CordVida, um dos dois bancos que realizam a coleta em todo o território nacional. Mas contesta a afirmação de que não existe eficácia comprovada. Para Waddington, além de regular a propaganda, o governo deveria flexibilizar a norma que proíbe o transplante para outros pacientes.
Para o diretor do Centro de Transplantes de Medula Óssea do Inca, Luís Fernando Bouzas, ex-diretor da CordVida no Brasil, bancos privados não têm embasamento científico para continuar existindo. Na sua opinião, o problema não é as pessoas congelarem o sangue do cordão dos filhos, mas o fato de serem influenciadas pela propaganda enganosa.
O material estocado nos bancos públicos pode ser usado por qualquer pessoa, desde que haja compatibilidade. O Banco de Sangue do Cordão Umbilical e Placentário do Inca, inaugurado ontem, teve a capacidade ampliada de 3 mil para 10 mil bolsas. O investimento, de R$ 4 milhões, foi do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O projeto faz parte do plano de expansão da rede BrasilCord, que reúne bancos públicos de sangue do cordão umbilical. Além do Inca, já estão em funcionamento uma unidade em São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto.