Título: Choques entre Exército e milícia no Paquistão já mataram 250
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2007, Internacional, p. A15

Conflito é o pior desde que Musharraf decidiu apoiar os EUA na luta antiterror, em 2001

Pelo menos 50 pessoas morreram ontem num ataque da Força Aérea paquistanesa a um mercado a céu aberto na aldeia de Epi, perto da fronteira com o Afeganistão. Com isso, subiu para 250 o total de mortos em quatro dias de combates entre forças de segurança paquistanesas e rebeldes fundamentalistas islâmicos - principalmente membros da milícia afegã Taleban - na área tribal do Waziristão do Norte.

O bombardeio destruiu lojas e casas. Os militares afirmaram que os mortos são rebeldes islâmicos, mas moradores da aldeia disseram à Associated Press que havia muitos civis entre as vítimas. 'Vi muitos corpos sem cabeça, mãos ou pernas', disse o comerciante Abdul Sattar.

Este já é o pior confronto ocorrido no Paquistão desde que o governo do presidente Pervez Musharraf decidiu apoiar Washington em sua guerra contra o terrorismo, após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA.

A atual onda de violência no Waziristão do Norte começou no sábado, quando rebeldes explodiram um caminhão que transportava soldados. O episódio desatou violentos confrontos entre o Exército e militantes islâmicos. A população local acusa as Forças Armadas de oprimir as tribos pashtun que vivem na região.

'A resistência dos rebeldes está sendo maior do que o Exército esperava', afirmou um funcionário do governo paquistanês. 'Essa resistência nos faz acreditar que talvez haja guerrilheiros estrangeiros da Al-Qaeda, muito bem treinados, ajudando os rebeldes taleban.'

Milhares de pessoas começaram ontem a deixar a região do Waziristão do Norte, considerada pelos EUA um reduto de militantes da rede terrorista Al-Qaeda e de membros do Taleban. O governo de Musharraf tem recebido uma forte pressão da Casa Branca para reprimir os rebeldes. Essas operações não são bem vistas pela população local, que considera os ataques uma concessão de Islamabad à política antiterror de Washington.

De acordo com um relatório divulgado ontem pelo governo dos EUA, a Al-Qaeda continua sendo a ameaça terrorista 'mais séria e perigosa' contra os americanos. O documento diz que a rede terrorista islâmica conseguiu proteger sua liderança, substituiu seus comandantes e fortaleceu seu esconderijo nas áreas tribais do Paquistão.

BIN LADEN

O tenente-general Assad Durrani, ex-chefe do serviço secreto paquistanês, disse ontem que o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, teria mais facilidade para esconder-se em uma grande cidade do que em uma remota região tribal. 'Em uma área tribal é difícil esconder-se porque é mais fácil perceber a presença de algo ou alguém fora do normal', disse Durrani em entrevista à agência Reuters.