Título: Igreja argentina pede perdão por padre torturador
Autor: Miranda, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2007, Internacional, p. A12

Buenos Aires - A Igreja Católica argentina pediu ontem ¿perdão com arrependimento¿ pelos delitos de lesa humanidade cometidos pelo padre católico Christian von Wernich - considerado culpado de 7 homicídios, 31 casos de tortura e 42 seqüestros durante a ditadura militar na Argentina (1976-83). Von Wernich, de 69 anos, capelão da polícia de Buenos Aires na época da ditadura, foi o primeiro padre católico das Américas condenado por crimes contra a humanidade. Ele foi sentenciado anteontem à prisão perpétua, pena máxima prevista na legislação argentina.

¿Que um sacerdote, por ação ou omissão, estivesse tão longe das exigências da missão ao qual ele foi confiado, nos leva a pedir perdão, com sincero arrependimento¿, disse o bispo Martín de Elizalde - que pertence à mesma diocese de Von Wernich. O religioso afirmou que a situação do padre condenado será resolvida ¿oportunamente¿ nas disposições do Direito Canônico, mas não mencionou a possibilidade de que a Igreja outorgue alguma sanção eclesiástica ao capelão.

Em diversas ocasiões, Von Wernich fingiu ser amigo dos prisioneiros políticos e conseguia deles, por meio da confissão religiosa, informações secretas sobre colegas dos detidos que estavam na clandestinidade. Ele repassava a informação aos militares. Além disso, o padre fazia torturas psicológicas e pedia dinheiro a famílias de presos, alegando que usaria as quantias para subornar guardas a fim de obter a libertação de detidos.

Após o fim da ditadura, Von Wernich fugiu para o Chile, onde morou até 2003, quando foi descoberto e extraditado para a Argentina. O regime militar no país foi responsável pelo assassinato de 30 mil civis.