Título: Amorim cobra clareza dos EUA sobre Doha
Autor: Otta, Lu Aiko; Puliti, Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2007, Economia, p. B14

Em reunião com o conselheiro para assuntos econômicos do presidente George W. Bush, Allan Hubbard, na tarde de ontem, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, cobrou mais clareza do governo americano depois de sinais de que os Estados Unidos estão dispostos a mostrar mais flexibilidade nas negociações da Rodada Doha, especialmente em relação à agricultura.

No mês passado, em reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Nova York, Bush disse que pretendia buscar uma solução para as 'diferenças' entre os dois países na questão agrícola. No entanto, até agora os americanos não passaram das boas intenções.

'Eu disse que acho possível um acordo e que primeiro tem de ter clareza em agricultura', afirmou Amorim, ao ser questionado sobre a reunião. Ao sair do Itamaraty, Hubbard disse apenas que a reunião tinha sido muito boa e que 'o presidente Bush está comprometido com Doha'.

Uma das definições aguardadas com mais expectativa pelo governo brasileiro é sobre a possibilidade de os Estados Unidos reduzirem o limite dos subsídios agrícolas dos atuais US$ 17 bilhões para um valor entre US$ 13 bilhões e US$ 16 bilhões. 'Existe um movimento e nós reconhecemos. Mas ele só existirá se (o valor) chegar próximo dos US$ 13 bilhões. Se for de US$ 17 bilhões para US$ 16,5 bilhões, não é movimento nenhum. É preciso estar atento para (a possibilidade de) fazer um grande movimento que quer dizer o oposto', afirmou o ministro, em entrevista depois da reunião.

O ministro disse ainda que não aceitava as afirmações de que Brasil, Índia e África do Sul, por suas posições em relação à questão agrícola, emperram a Rodada Doha. 'Não é justo, não é correto. Se continuar essa guerra na mídia internacional, não vai haver acordo', afirmou Amorim.

O chanceler negou que o Brasil esteja mais voltado para o Mercosul e, ao mesmo tempo, atrapalhe as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC). 'O Mercosul tem importância política, é questão de estabilidade política dos países. Não vamos entregar o Mercosul em troca da OMC', afirmou o ministro.