Título: Aliado denuncia pressão de Chávez
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Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2007, Internacional, p. A18
Líder do Podemos, partido que é contra alterar conceito de propriedade privada, diz que presidente 'atropela' Constituição.
O líder do partido venezuelano da base governista Podemos, Ismael García, acusou ontem o presidente Hugo Chávez de 'atropelar a Constituição' e denunciou as pressões recebidas pelo Podemos por não ter se dissolvido e juntado-se ao Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) - criado pelo presidente venezuelano com o objetivo de unificar todas as forças políticas que o apóiam em um partido único.
Além de resistir à autodissolução do partido, os integrantes do Podemos vêm fazendo várias críticas ao projeto de reforma constitucional apresentado em agosto pelo presidente. Na quarta-feira, Chávez criticou de forma dura a postura do Podemos e insinuou que seus integrantes são corruptos. 'Fora com os traidores, covardes, duas caras, corruptos, ambiciosos e mesquinhos', afirmou Chávez. 'Se ainda há gente honesta nesse partido, eles devem juntar-se a nós rapidamente porque aquele navio vai afundar.'
Suas declarações foram feitas durante a cerimônia de juramento de militantes do PSUV. No evento, decorado com bandeiras vermelhas, Chávez anunciou a instalação do congresso de fundação do PSUV em 2 de novembro. O presidente venezuelano voltou a pedir que os partidos Pátria Para Todos e Partido Comunista da Venezuela - ambos da base governista - deixem de lado as 'parcelas de poder' e se juntem ao PSUV 'antes que seja tarde demais, como aconteceu com o Podemos'. A instalação do congresso do PSUV já foi adiada duas vezes pelo presidente, que antes havia marcado o evento para o dia 20 e depois para o dia 27.
Chávez está em campanha para a aprovação do seu projeto que busca modificar 33 artigos da Constituição venezuelana. O líder do Podemos disse que Chávez não tem o direito de desqualificar os integrantes do partido. 'Ele está atropelando a Constituição', afirmou García. 'Pedimos retificações e que (Chávez) abaixe o tom orgulhoso e nos escute.'
Uma das principais críticas do Podemos ao projeto de reforma constitucional é a alteração prevista nos tipos de propriedade privada dentro da Venezuela. O texto proposto, e que será submetido a um referendo no 2 de dezembro, prevê cinco tipos de propriedade - social, coletiva, mista, pública e a privada, esta com risco de ser confiscada 'quando afetar os direitos de terceiros ou de da sociedade'. 'Isso não é modelo de socialismo, isso é capitalismo do Estado', afirmou García.
CENSURA
O governo venezuelano cancelou ontem o show do cantor espanhol Alejandro Sanz em Caracas por críticas feitas pelo artista ao presidente Hugo Chávez há três anos. Em uma entrevista concedida pelo cantor em 2004, Sanz disse que não gostava de Chávez. O cantor tinha um show marcado para 1º de novembro no Poliedro - um estádio controlado pelo Estado - e 15 mil pessoas eram esperadas para a apresentação.
'Se um artista vem para a Venezuela para insultar Chávez e é contra o projeto bolivariano, como você acha que o povo desse país vai reagir se ele (Sanz) receber permissão para usar o estádio?', disse o ministro da Educação da Venezuela, Luis Acuña. Segundo o ministro, o cantor poderia se apresentar em alguma casa de show privada do país.