Título: O que eles queriam?
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2007, Notas & Informações, p. A3

Qualquer cidadão tem o direito de criticar a destinação que o governo dá aos recursos públicos, por considerar que o dinheiro produziria melhores resultados se fosse aplicado em outra área. Mas há quem critique por simples oportunismo eleitoral. É o caso da bancada do PT na Assembléia Legislativa com relação ao Orçamento do Estado de São Paulo para 2008 proposto pelo governador José Serra, do PSDB. Falta compreensão do interesse público e sobra incongruência nas críticas dos petistas.

Enviado ao Legislativo no fim de setembro, como manda a lei, o projeto de Orçamento do Estado para o próximo ano prevê gastos de R$ 95,2 bilhões, valor 12% maior do que o do Orçamento de 2007. Alguns dos aspectos mais criticados pelos deputados petistas são, justamente, aqueles que resumem as melhores características da proposta de Serra.

Bastam alguns poucos exemplos para se constatar isso. Veja-se o caso da verba que o Executivo reservou para investimentos em 2008. Estão destinados R$ 11,6 bilhões, ou 50% a mais do que foi reservado para investimentos no Orçamento deste ano. Os Executivos brasileiros, em seus três níveis, vêm sendo criticados por gastar cada vez mais com o custeio da máquina, e cada vez menos com a modernização e ampliação dos serviços, isto é, em investimentos produtivos. A proposta do governo paulista inverte essa tendência, elevando de 9,3% neste ano para 12,2% em 2008 a fatia dos investimentos sobre a receita total.

Mas os petistas acusam o governo do PSDB de, por interesse eleitoral, elevar de maneira excessiva os investimentos - que, dizem os deputados do PT, serão aplicados em obras ¿vistosas¿ que apareçam bem para o eleitorado num ano de eleições municipais e preparem o terreno para a futura campanha de Serra à Presidência da República em 2010 - cortando na área social. Dizem, até, que a proposta de Serra, embora tenha elevado os investimentos substancialmente, reduziu-os para a área de saúde.

É verdade que os investimentos em saúde serão menores, mas isso se deve ao fato de que, em 2007, o governo investiu na conclusão das obras da fábrica de medicamentos da Furp e do Hospital Dante Pazzanese, como explicou a Secretaria do Planejamento. Não haverá, por isso, novos investimentos nessas obras em 2008. Mas os gastos totais com saúde em 2008 serão 9,8% maiores do que os deste ano - R$ 560 milhões a mais.

Ao contrário do que dizem os deputados do PT, não haverá redução dos gastos na área social em 2008. Os gastos com educação passarão de R$ 12,0 bilhões para R$ 13,3 bilhões; com saúde, de R$ 8,6 bilhões para R$ 9,2 bilhões; e com segurança pública, de R$ 8,2 bilhões para R$ 8,7 bilhões.

Mas as críticas mais inconsistentes dos petistas são as que se referem à destinação dos investimentos. O líder do PT na Assembléia, deputado Simão Pedro, acusa o governador José Serra de ter elaborado um programa de obras de impacto para 2008 com vistas às eleições presidenciais.

Em primeiro lugar, é desnecessário lembrar que todo governante nas democracias é obrigado a decidir e agir com o objetivo de conquistar prestígio e apoio da população - e essa é uma das maiores virtudes do regime democrático.

Em segundo lugar, por feliz coincidência, as obras que o deputado petista diz que são ¿obras de impacto¿ são isso mesmo, porque vão melhorar imediatamente a vida de cada paulistano. Na lista estão investimentos de grande importância, como a continuidade das obras das Linhas 2 (Verde) e 4 (Amarela) do Metrô, a modernização operacional das linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, a compra de trens, o Rodoanel e a recuperação de estradas vicinais. São apenas alguns exemplos. Criticar investimentos como esses seria demonstrar ignorância das reais carências do Estado na área de transporte de massa, da precariedade da malha viária na região metropolitana e das dificuldades para o escoamento da safra agrícola que bate recordes - se não fosse, no caso, apenas demonstração de má-fé.

Se estivessem sendo honestos nas suas avaliações sobre os investimentos nessas áreas essenciais para dar melhores condições de vida à população e eliminar gargalos à produção, estariam na obrigação de dizer que áreas acham mais prioritárias do que essas.