Título: Hu Jintao tentará promover aliados e consolidar poder no congresso do PC
Autor: Perez, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2007, Internacional, p. A13

Espera-se que o presidente chinês aponte um de seus protegidos como sucessor e afaste a sombra de Jiang Zemin

O presidente chinês, Hu Jintao, inaugura amanhã o 17º Congresso do Partido Comunista, onde buscará afastar seus rivais, consolidar seu poder e emergir da sombra de seu poderoso antecessor, Jiang Zemin.

Os congressos do Partido Comunista, que são realizados a cada cinco anos desde 1921, são uma ocasião onde os líderes chineses indicam seus favoritos para promoções. Por isso, espera-se que Hu aponte um de seus protegidos como seu sucessor - o quinto líder após Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping, Jiang Zemin e o próprio Hu. Na realidade, os principais postos são decididos por meio de intensas negociações nos bastidores, nos meses que antecedem o encontro.

Durante o mais importante evento político na China, que reunirá 2.217 delegados no Grande Salão do Povo, em Pequim, deverá ser discutida a agenda do país - assim como suas prioridades - para os próximos cinco anos. Muito pouco sobre os temas discutidos deverá ser revelado até o fim do encontro, que durará uma semana e ocorrerá a portas fechadas. Um forte controle do poder permitirá a Hu acelerar seus planos para equilibrar o grande, mas desproporcional, crescimento econômico, melhorar a qualidade de vida dos agricultores pobres, conter a crescente degradação do meio ambiente e promover políticas justas.

Ao assumir a chefia de Estado, após o último congresso do PC, em 2002, Hu, em vez de seguir a receita de sucesso de seu antecessor, fez uma série de mudanças políticas para tentar resolver grandes problemas no país, principalmente a profunda brecha entre ricos e pobres, a crescente instabilidade social e a corrupção enraizada. Mas, segundo analistas, Hu enfrentou forte resistência de funcionários saudosos dos tempos de bonança.

Um dos principais testes do poder de Hu será conseguir afastar antigos aliados de Jiang Zemin, como Zeng Qinghong e Jia Qinglin, do Comitê Permanente do Politburo - o mais importante órgão de tomada de decisões na China -, por enquanto reduzido a oito membros após a morte do vice-premiê Huang Ju, em junho. Nos últimos dias, membros do PC têm dito que Zeng, vice-presidente do país, já concordou em deixar o posto.

Para Mixin Pei, especialista em China do instituto Carnegie Endowment, as mais importantes decisões que serão tomadas durante o congresso estão relacionadas às promoções. ¿O presidente Hu, pela primeira vez, terá condições de montar sua própria equipe. Não deve haver mudanças políticas. Nos próximos cinco anos, as políticas já adotadas por Hu prevalecerão¿, disse Mixin ao Estado.

¿Acredito que Hu promoverá pelo menos um de seus protegidos da nova geração ao Comitê Permanente do Politburo, provavelmente Li Keqiang. Mas acho que será difícil para o presidente promover mais do que um de seus seguidores, já que todos estão abaixo na hierarquia do partido¿, assinalou Victor Shih, especialista em China da Universidade Northwestern, de Chicago.

Li, de 52 anos, é secretário-geral do PC na Província de Liaoning, que era um dos motores da indústria estatal, mas hoje enfrenta desemprego em massa e decadência econômica. Li pode ser nomeado primeiro-ministro quando Wen Jiabao se aposentar daqui a cinco anos.

Xi Jinping, de 54 anos, líder do PC em Xangai, também deve ser promovido ao comitê e pode tornar-se sucessor de Hu como líder do partido, chefe de Estado e chefe militar em 2012.

¿Esta será a oportunidade para Hu criar sua própria equipe de líderes e deixar sua marca na política chinesa para os próximos cinco anos¿, disse Joseph Fewsmith, da Universidade de Boston, autor do livro China Since Tiananmen: The Politics of Transition (China desde Tiananmen: as políticas de transição). ¿Acho que ele já provocou um impacto, dando maior atenção às áreas rurais e aos que não foram beneficiados com a prosperidade econômica dos últimos anos.¿

Analistas dizem que Hu, de 64 anos, que acumula a chefia partidária e militar, tem mostrado inesperados dons políticos, obtendo mais em cinco anos do que Jiang conseguiu no mesmo período. Mas, mesmo se Hu sair mais fortalecido do congresso, enfrentará uma série de problemas, incluindo a crescente preocupação internacional com a segurança de alimentos e outros produtos chineses. ¿Internamente, Hu precisa lidar com problemas como corrupção, inflação e a crescente desigualdade. Ele precisa cumprir sua promessa de uma `sociedade harmoniosa¿, enfatizando os direitos trabalhistas e garantindo um maior acesso à educação, moradia e sistema de saúde¿, disse Mixin.

A profunda brecha entre ricos e pobres - iniciada após as reformas econômicas lançadas em 1978 por Deng Xiaoping - foi acompanhada por um alarmante aumento de distúrbios sociais, mesmo depois da posse de Hu. Em 1994, ocorreram 10 mil protestos em massa, que chegaram a 58 mil em 2003 (primeiro ano da presidência de Hu) e a 74 mil um ano depois. Os motivos são variados. Vão desde a corrupção de funcionários locais e a poluição provocada por fábricas até a desapropriação de terras para a construção de condomínios e shopping centers.

Em resposta, Hu promoveu políticas para as áreas rurais, reduzindo impostos de agricultores, oferecendo educação gratuita às crianças e criando um sistema básico de saúde em toda a China. Algumas das propostas de Hu, no entanto, têm enfrentado grande resistência. Conceitos como ¿PIB verde¿, que enfatiza o desenvolvimento sustentável, foram ignorados por alguns funcionários locais.

Segundo Victor Shih, Hu deve tentar incluir uma política denominada ¿desenvolvimento científico¿ na Carta do Partido Comunista. ¿Com isso, as políticas dos últimos anos que levam em conta o meio ambiente serão solidificadas¿, disse o especialista.

O crescimento da China - uma das dez maiores economias do mundo - e sua necessidade de energia cada vez maior vêm tendo grande impacto no meio ambiente. Vinte das 30 cidades mais poluídas do mundo estão na China e 70% dos lagos chineses, assim como cinco dos sete maiores sistemas fluviais do país, estão poluídos. A China também é responsabilizada por parte da poluição do ar em países da região.