Título: Longo aplauso na despedida do mestre do teatro Paulo Autran
Autor: Penhalver, Alexandra., Pinheiro, Vinicius
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2007, Vida&, p. A25

Corpo foi velado entre sexta-feira à noite e sábado de manhã na Assembléia Legislativa

O corpo do ator, diretor e produtor Paulo Autran, morto anteontem aos 85 anos de idade em decorrência de câncer de pulmão e enfisema pulmonar, foi recolhido para cremação ontem às 12h15, no Crematório de Vila Alpina. Acompanharam a cerimônia, segundo a Polícia Militar, cerca de 400 pessoas. Autran foi velado durante toda a noite no Salão Nobre da Assembléia Legislativa de São Paulo, no Ibirapuera, e levado pouco depois das 11h15 ao crematório.

O velório contou com a presença de vários atores e personalidades que conviveram com Autran ao longo de suas carreira e vida. Entre eles, o ator e dramaturgo Juca de Oliveira, que fez um discurso de despedida - chamando Autran de mestre e atribuindo a ele a responsabilidade pelo fato de a profissão ser hoje mais respeitada e valorizada. Ainda na Assembléia, na última homenagem, Autran foi longamente aplaudido pelos presentes.

No dia 1º de outubro, Paulo Autran emocionou ao subir ao palco para receber o prêmio Artista Prime do Ano, promovido pela revista Bravo!, em São Paulo. Na ocasião, de cadeira de rodas e auxiliado por sua mulher, Karin Rodrigues, ele disse, com voz embargada, que mesmo sendo uma pessoa muito controlada - que só chorava quando o personagem pedia -, naquela noite estava ¿muito difícil¿ conter as lágrimas.

CIGARRO

Segundo Karin, que viveu com Autran por 30 anos, o ator lhe pediu que contasse às pessoas que foi o cigarro que o matou. ¿Isso porque diziam: `Ah, o Paulo Autran fuma e tem 85 anos.¿ Mas ele não conseguiu parar de fumar.¿ Segundo ela, o ator chegou a consumir dois maços por dia. Depois do diagnóstico de câncer, reduziu o consumo, mas não conseguiu parar.

Ele já havia declarado, há cerca de um ano, sobre o hábito de fumar: ¿Fumo desde os 23 anos de idade. Deveria ter parado há 61 anos, no dia em que comecei.¿

¿Ele falou: `Que bom que estou indo embora¿¿, contou Karin. ¿Ele queria ir porque não conseguia mais respirar, e sem respirar, é difícil viver.¿

CLÁSSICO

¿Ele era um educador, um clássico, não essa bandalheira que se vê hoje em dia¿, comentou durante o velório o diretor de teatro Gerald Thomas. ¿Era um ator com quem se podia discutir a razão da queda do Império Romano e ao mesmo tempo lutava pela existência do teatro contemporâneo. Estava em todos os espetáculos, de diretores jovens e velhos. Para mim ele não morreu, está só interpretando outro papel.¿

Karin também lembrou que Autran fez teatro em uma época em que não havia incentivos fiscais para a cultura. ¿Fazia o espetáculo, saldava a dívida e seguia adiante.¿

¿Mesmo doente, quando estava em cena, ele parecia ter no máximo 50 anos, tanto que se alimentava do teatro¿, disse o autor de novelas Silvio de Abreu.