Título: Espanha amplia ofensiva no Brasil
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2007, Economia, p. B1
O resultado do leilão de rodovias federais realizado na terça-feira pelo governo federal na Bolsa de Valores de São Paulo é um dos exemplos mais recentes da ofensiva de investimentos da Espanha no País. As empresas de origem espanhola, OHL e Acciona, levaram seis dos sete lotes ofertados, ou 2.278 quilômetros de um total de 2.600 quilômetros.
O vigoroso interesse dos espanhóis tem jogado um balde d¿água fria nas estratégias de muitos investidores no Brasil, sejam nacionais ou estrangeiros. Nos últimos meses, eles conseguiram abocanhar quase tudo que disputaram, num movimento que já vem sendo chamado de segunda onda de investimento espanhol no País. Desta vez, no entanto, marcado por empresas de porte menor comparado com aquelas que chegaram por aqui na época da privatização, em meados da década de 90.
Com deságios de tarifas entre 39% e 65%, as companhias não deram chance para mais ninguém. De acordo com o modelo federal, era declarado vencedor quem aceitasse receber o menor valor de pedágio. E, nesse quesito, os espanhóis esbanjaram competitividade.
O mesmo pôde ser verificado no leilão de linhas de transmissão promovido em dezembro de 2006 pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). As empresas espanholas Abengoa e Isolux ficaram com quatro dos seis trechos oferecidos e também surpreenderam com os lances oferecidos, com deságio de até 59% sobre a receita anual permitida. Um investidor que participou da disputa afirmou que não dá para competir com propostas de valores tão baixos.
Esse sentimento de incapacidade deve repetir-se no próximo leilão de transmissão marcado para 7 de novembro. As empresas Abengoa, Isolux, Elecnor, Cobra e Cymi estão pré-qualificadas para disputar os sete lotes com nove linhas de transmissão e três subestações em dez Estados brasileiros. Os investimentos totais são estimados em R$ 1,051 bilhão.
E os espanhóis estão longe de recuar. Na semana passada, o Santander, em associação com outros dois bancos europeus, fez parte da maior negociação da história do setor financeiro ao comprar o holandês ABN Amro, por 71,1 bilhões. A negociação dará ao banco espanhol o terceiro lugar no ranking dos maiores bancos do Brasil.
Hoje, os investimentos espanhóis estão espalhados por vários setores da economia. No turismo, por exemplo, eles dominam o boom imobiliário no Nordeste, com cifras invejáveis. Só no Ceará dois resorts de capital espanhol devem começar a ser construídos, com um custo de R$ 2,8 bilhões.