Título: Maior mina de ferro do mundo foi descoberta por acaso. Com picareta
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/10/2007, Economia, p. B12

¿Favor mandar soro antiofídico. Urgente!¿

O telegrama caiu na mesa de Gene Tolbert em agosto de 1967. Ele sorriu, pegou a mala e correu para Belém do Pará. A mensagem havia sido despachada por Breno Augusto dos Santos. Na verdade, nem ele nem qualquer um dos membros da equipe de geólogos da United States Steel (USS) havia sido picado por cobra. A mensagem era um código que queria dizer: achamos a reserva de manganês. Naquela época, o mineral era mais valioso do que ferro.

Antes, Santos, geólogo formado pela USP - na turma do professor Tolbert -, já havia se deslocado de Carajás para Belém para informar ao chefe que havia descoberto um mar de ferro no sudeste do Pará. Tolbert nem ligou. ¿Ah, tudo bem. Mas isso não é importante. Quero manganês¿, disse ele, segundo relata Santos, que hoje vive no Rio de Janeiro. Três meses depois, Tolbert, in loco, silenciaria quando conheceu Carajás.

A EXPEDIÇÃO

Santos escreveu o nome na geologia mundial. Foi em maio de 1967 que ele e um grupo de geólogos recém-formados embarcaram para o Pará atrás de manganês. Queriam ficar em Marabá, mas a concorrente Union Carbide já estava lá. Partiram para o plano B. Encontraram uma sala em Altamira, mas a espionagem da atividade mineral fez a concorrente ser mais ágil.

¿Enquanto estávamos preparando a ida para Altamira, a Union Carbide foi para lá e alugou nossa sala. Ficamos sem opção¿, conta. Quis a história que a partir de Marabá saísse a expedição de Santos para a descoberta de Carajás. ¿Eles (os pesquisadores da Union Carbide) estavam onde poderiam achar e foram para onde não encontrariam nada. Exatamente onde iríamos ficar¿, lembra.

O quartel-general das investigações geológicas acabou sendo a aldeia dos xikrins, os mesmos índios que hoje exigem da Vale compensações pela exploração de Carajás. Santos lembra que, ao sobrevoar a região de mata densa, pôde constatar clareiras no meio da floresta. Poderia ser manganês, jamais imaginou que poderia ser ferro.

Desceu numa clareira menor e, com uma pequena picareta, golpeou uma pedra. Não era manganês. ¿Era ferro.¿ Trouxe para o acampamento amostras, voltou a Belém e informou o chefe. A pesquisa continuou e, dias depois, Santos e a equipe acharam manganês. O soro antiofídico foi então pedido.

FAROESTE

O geólogo trabalhou na Vale e hoje, 40 anos depois, tem uma certeza. É responsável pela última descoberta romântica da geologia mundial. ¿Ali, em Carajás, tem muita coisa, até ferro. As reservas podem ser muito maiores que as provadas.¿

Santos se envaidece com a descoberta que fez. ¿Aquilo era como a lua, que aguardava para revelar tudo que tinha ao primeiro homem que a pisou.¿

Mas nem tudo nessa história tem final feliz. A riqueza de Carajás jamais serviu, ele diz, para o desenvolvimento socioeconômico da população. ¿Nenhum governo foi capaz de usar aquilo para promover o desenvolvimento local. Fora a Floresta Nacional de Carajás, o Pará é um grande faroeste.¿ Segundo ele, a Vale não tem nada a ver com isso. Faz trabalho importante na região e se aproveita da riqueza que há ali.