Título: Social-desenvolvimentismo de Mantega não tem nada de novo
Autor: Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2007, Economia, p. B3

Economistas vêem continuidade do modelo adotado pelo governo FHC.

O Estado submeteu à avaliação de seis economistas as idéias do que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, considerou a base do modelo social-desenvolvimentista. Em entrevista ao jornal, publicada no domingo, o ministro anunciou que o governo prepara um documento para explicar as bases desse modelo. Nenhum dos economistas viu uma revolução conceitual em curso na gestão estratégica do Estado. Pelo contrário, onde o ministro viu ¿novidade¿, a maioria viu ¿continuidade¿ - o que eles consideram a explicação essencial para o que está acontecendo de positivo hoje no País.

Em nome da objetividade, Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, chega a ser irônico ao falar das políticas de transferência de renda festejadas pelo ministro Mantega como alavancas da criação da nova classe média. ¿Se Lula é o pai, o Fernando Henrique Cardoso é o avô.¿ Neri interessa-se menos pela disputa em torno da autoria das políticas, e mais pelo reforço da idéia de que o País vem ganhando com a manutenção de ¿gerações de políticas públicas que fazem parte da mesma linhagem¿. Mas faz um alerta: ¿Programas vinculados ao salário mínimo são (políticas) de velha geração¿. Nesta página, a síntese das avaliações:

Marcelo Neri - Chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro

¿Existe continuidade tanto do ponto de vista da política econômica como da social. O Fernando Henrique criou o bolsa-escola. O Lula criou o bolsa-família, que é um bolsa-escola 2.0. O nosso desafio é ter um bolsa-escola 3.0. São gerações de políticas que fazem parte da mesma linhagem. O primeiro mandato do Lula não se caracterizou por um avanço na educação e na saúde.

Dá-se muita ênfase a nomes, e talvez o nome procure diferenciar, mas o que é mais interessante são as semelhanças. Existe de fato alguma coisa muito especial acontecendo, que começou em 2001. A política social avançou no sentido de transferência de renda. É preciso agora focar na geração de novas políticas sociais. Mas o governo ainda explora velhas tecnologias. Por exemplo, os programas constitucionais, tipo os benefícios de prestação continuada, previdência rural. Programas melhores de novas gerações, como o bolsa-família, estão se expandindo com maus programas. O mercado de consumo de massa não será sustentável se não houver focalização. Programas vinculados ao salário mínimo são de velha geração. Não são sustentáveis a longo prazo. O risco dessa boa colheita de resultados sociais é o relaxamento. Se quiser continuar tem que fazer melhor.

No Brasil, temos um Estado grande e ruim. Esse modelo que o ministro fala tem muito a melhorar. O que mudou agora foi o grau de ousadia. O governo Lula é mais ousado, mais pró-pobre. A grande vantagem do momento que vivemos agora é a chamada persistência. Se essa redução de pobreza é filha do Lula, o avô dela é o FHC. Mudar o nome agora e chamar de social-desenvolvimentista é apenas dar nome.¿