Título: Oposição se diz traída e quer levar votação para 2008
Autor: Fontes, Cida., Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2007, Nacional, p. A5

Relatora do projeto na CCJ fala em 30 dias para apresentar parecer

Dizendo-se ¿traídos¿ e ¿atropelados¿ pelo governo, os principais líderes da oposição afirmaram que não se recusam a conversar com o Planalto, mas não aceitam reduzir os prazos regimentais para a tramitação da prorrogação da CPMF. Querem levar a votação para o ano que vem.

A relatora da CPMF na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Kátia Abreu (DEM-GO), foi categórica sobre os prazos: ¿Não tem acordo para encurtar prazo, como quer o PT. Quero os 30 dias para convencer meus colegas a votar e aprovar o meu parecer.¿ Em sua avaliação, ¿o governo foi complacente com os deputados e agora quer aprovar a emenda em dez dias no Senado¿.

Ontem, ao fim do almoço dos líderes com o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), quando foi discutida a pauta de votações da Casa, o tucano Arthur Virgílio (AM) disse que a oposição terá uma postura responsável, mas o governo não tem sensibilidade política e não cumpre os acordos feitos no Congresso. ¿O clima da reunião foi muito bom e muito fraterno, mas não dá para cair no mesmo conto de 2003. Naquele ano, votamos primeiro a CPMF para, depois, aprovarmos a reforma tributária. E a reforma tributária nunca aconteceu. Não vamos cair no mesmo engodo¿, disse Virgílio, líder da bancada do PSDB no Senado.

CONTRADIÇÃO

O líder do DEM, José Agripino (RN), ressaltou a contradição do governo ao pedir pressa e encurtamento dos prazos no Senado. Agripino disse que, na Câmara, o governo ¿se curvou a todas as pressões e barganhas do deputado da base Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que só aceitou apresentar o relatório da CPMF, na Comissão de Constituição e Justiça, depois que o Planalto nomeou o aliado Luiz Paulo Conde para a presidência da estatal Furnas Centrais Elétricas¿.

¿Agora quer pressa no Senado?¿, questionou Agripino. ¿O governo se negou a negociar e atropelou a oposição.¿

Virgílio cobrou uma negociação com propostas concretas sobre redução de alíquota. ¿Está passando do momento de o governo propor algo. O governo já nos atropelou na Câmara. Agora finge que não vê o descontrole dos gastos (de custeio). Com uma mão, acena com a CPMF, e com a outra acena com gastos. E o ministro da Fazenda (Guido Mantega) faz terrorismo¿, afirmou. O tucano referia-se às declarações de Mantega, na semana passada, ameaçando aumentar impostos e cortar investimentos se a CPMF não for aprovada. ¿Estão saindo da candura para o chicote num estalar de dedos¿, emendou Agripino, referindo-se ao comportamento do governo, que, ao mesmo tempo, faz ameaças e promete negociar.

IRONIA

Sobre a conversa com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, prevista para hoje, Virgílio disse que os tucanos ouvirão atentamente a pregação sobre a CPMF. ¿Vamos ouvir, até porque ouvi-los não aumenta a carga tributária¿, ironizou o líder tucano.

Ele disse, porém, que vai contra-atacar durante o debate. ¿Vou dizer que em um semestre o governo arrecadou mais do que a CPMF¿, avisou. Virgílio admitiu até mesmo apoiar o governo em sua luta para esticar a validade da CPMF, mas com uma condição: ¿Se o presidente Lula parar de falar `nunca antes neste país¿ já é meio caminho andado¿, brincou o líder do PSDB.