Título: Brasil continua líder em juro real, mesmo com corte
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2007, Economia, p. B7
Valorização do real nas últimas semanas reforça as apostas de nova redução da Selic na reunião de hoje
A retomada da valorização do real abre espaço para o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzir em 0,25 ponto porcentual a taxa Selic hoje, mas ainda assim o juro real do Brasil continuará como o segundo maior no mundo. Com a queda, o juro real passaria de 7,1% para 6,8%, taxa muito distante da terceira colocação, onde estão embolados quatro países - Austrália, Israel, Inglaterra e Filipinas -, na faixa de 4,4%.
Os dados são de pesquisa feita pela consultoria Up Trend com base em informações relativas a 40 países. Os juros básicos médios do grupo são de 2,6%. O maior juro é o da Turquia, que ontem reduziu sua taxa básica de 17,25% para 16,75% e mesmo assim se manteve como a taxa real mais alta: 9,1%. Apesar de ser a segunda maior taxa no mundo, o juro básico brasileiro já está no menor nível para períodos de estabilidade econômica.
¿Uma taxa acima de 5% é ruim, não tem efeito expansivo para a economia. Agora, o importante é que estamos num ponto a que nunca chegamos no Brasil antes. É o mais importante que a gente tira disso¿, diz o economista-chefe da Up Trend, Jason Vieira. Países como os Estados Unidos, por exemplo, conjugam inflação baixa (2,2%) com juros básicos menores (4,75%), o que resulta em juros reais de 2,2% ao ano.
No caso brasileiro, a valorização do real nas últimas semanas reforçou a avaliação dos que acreditam que a taxa Selic pode cair hoje. Esse comportamento cambial abriria espaço para o Copom reduzir mais uma vez a taxa Selic, um cenário que não era cogitado por economistas logo após a última reunião, há 45 dias, quando a cotação do dólar estava em R$ 1,95. Anteontem, a moeda chegou a bater R$ 1,79 durante o dia e se acomodou no nível de R$ 1,81.
Além da cotação mais elevada do dólar antes, havia uma expectativa no mercado de que a moeda americana poderia permanecer em nível mais alto por mais tempo. Isso porque ainda havia dúvidas sobre os efeitos da turbulência provocada pelo mercado imobiliário americano. O que se viu, contudo, foram sucessivas valorizações do real, em grande parte por causa da maior entrada de recursos no Brasil.
O real valorizado barateia os custos de produtos e favorece as importações, o que tende a deixar os preços internos mais comportados.
Além disso, os últimos dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - 0,18% em setembro - vieram melhores do que o esperado pelo mercado.
ESPAÇO
¿Esse dólar baixo de ontem corrobora a tese de que os preços tendem a ficar mais controlados. Pode ter mais um corte¿, diz o responsável por inflação do Grupo de Conjuntura do Instituto de Economia da UFRJ, Carlos Thadeu de Freitas Filho.
O economista da MB Associados, Sergio Vale, também avalia que há espaço para mais um corte da Selic na reunião desta semana. Ele acredita, porém, que não haverá novo corte na última reunião do ano, em dezembro.
Vale alerta, entretanto, que a inflação dos chamados dos itens não-comercializáveis (principalmente os serviços) pode preocupar o Copom. A reação desse setor a mudanças da política monetária é mais lenta. Por isso, o BC poderia adotar uma atitude mais cautelosa e manter a taxa como está.