Título: Barril de petróleo a US$ 87,61. Mas gasolina não sobe
Autor: Lima, Kelly., Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2007, Economia, p. B12

Apesar de novo recorde, Petrobrás descarta aumento e justifica: valorização do real compensa a diferença

A Petrobrás descartou ontem a possibilidade de repassar para os preços do diesel e da gasolina a alta do petróleo no mercado internacional, apesar de o preço do barril ter atingido novo recorde ontem, fechando a US$ 87,61 em Nova York. Desde setembro de 2005, a estatal não reajusta os preços dos dois combustíveis. O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse que ¿a valorização do real compensou a diferença nos preços¿ do mercado interno e externo após a alta do petróleo.

Em evento no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gabrielli ressaltou que a auto-suficiência do Brasil no abastecimento de petróleo permite evitar a volatilidade de preços no cenário internacional. A empresa mantém uma política de repasses mais freqüentes apenas para combustíveis menos populares, como a nafta petroquímica e o óleo combustível. O preço do gás natural também já sofreu os efeitos da disparada do petróleo: no início do mês, em reajuste previsto em contrato, o gás boliviano teve aumento recorde, de 11,9%.

Gabrielli reiterou que não vê perspectivas de redução significativa das cotações internacionais. ¿A era de preços baixos, que permitiu a vida atual baseada em combustíveis fósseis, acabou¿, disse o executivo. ¿A maior parte está em áreas com risco geopolíticos. Isso significa que guerras, invasões e demais conflitos terão cada vez mais importância para pressionar os preços, assim como a relação oferta e demanda.¿

Analistas ouvidos pelo Estado concordam com a avaliação e acrescentam que a apertada relação entre oferta e demanda deve manter as cotações em níveis altos por um prazo mais longo. A consultoria Tendências, por exemplo, trabalha com uma cotação média de US$ 70 por barril este ano. Para o ano que vem, o valor deve oscilar entre os US$ 70 e os US$ 75.

¿O que estamos vendo é um reflexo dos fundamentos que vimos nos últimos nove meses¿, declarou Lawrence Eagles, diretor da divisão de mercado de petróleo da IEA em Paris.

Em tal cenário, qualquer má notícia tem potencial para provocar picos como os desta semana, por causa de rumores de operação militar turca no Iraque. ¿Se o mercado já está tenso, qualquer fator, por menor impacto que ofereça, pressiona ainda mais os preços, a ponto de podermos até esperar novos recordes ou mesmo a quebra da barreira de US$ 100 pelo barril¿, afirmou um analista do mercado financeiro.

Durante o dia de ontem, o petróleo chegou a bater os US$ 88 por barril em Nova York, provocando stress nas bolsas mundiais. Em Londres, a cotação do Brent fechou a US$ 84,16 por barril.

Para piorar o cenário, o secretário-executivo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Abdalla Salem el-Badri, afirmou em Tóquio que o cartel não pretende ampliar a produção. ¿Embora a organização não prefira preços de petróleo nesse nível, ela acredita fortemente que os fundamentos não dão suporte para os preços elevados e os mercados estão bem supridos¿, declarou. ¿Pelo menos 25% da alta é baseada somente em especulação¿, concorda o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires.