Título: Se Renan não voltar, cabe ao PMDB tratar da sucessão
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2007, Nacional, p. A8

Senador diz que foco durante sua interinidade é buscar o diálogo com todas as correntes políticas da Casa

Empenhado em recuperar a imagem do Senado, o presidente interino da Casa, Tião Viana (PT-AC), afirma que vai dar prioridade para o diálogo com todas as correntes políticas, sem esquecer medidas que, em sua opinião, resultarão em eficiência e transparência na administração da Casa. Viana acredita que sua permanência no cargo, por 45 dias, ocorrerá sem maiores transtornos desde que respeitados alguns princípios. Um deles é o de não avançar na disputa da presidência, enquanto Renan Calheiros (PMDB-AL) estiver licenciado. ¿Será inoportuno agora qualquer impulso sucessório na Casa¿, observa. Se ele deixar a presidência, diz não ter dúvidas de que caberá ao maior partido, o PMDB, indicar o sucessor.

O fato de o senhor ser do PT, partido que trabalhou pela absolvição do senador Renan Calheiros em plenário, aumenta sua responsabilidade no comando do Senado?

Aumenta, porque desde o início da crise não abri mão de uma conduta: a de ser leal à condição de vice-presidente. Ou seja, não houve nenhuma atitude que fosse para enfraquecer ou precipitar um desfecho contra o senador Renan Calheiros. Ao mesmo tempo, não tomei nenhuma atitude que fosse diminuir o principio de coerência e ética que norteiam a minha vida.

O PT tem chances de ficar com a presidência do Senado?

Acho que quem tem autoridade para tratar a crise no Senado no caso de Renan, no campo político, é o PMDB. Será inoportuno agora qualquer impulso sucessório na Casa. Caso contrário, prejudicaríamos a pacificação do ambiente legislativo, a retomada de um canal de diálogo. Se o senador Renan voltar e retomar suas atividades, após o seu julgamento, a Casa voltará ao normal e nós teremos avançado. Se ocorrer o contrário, aí caberá ao PMDB tratar dessa questão.

O que se pode fazer em 45 dias pelo Senado?

O primeiro aspecto prioritário para mim é a recuperação da imagem da instituição do Senado. Eu só acredito em democracia com instituições fortes. Não acredito em democracia com uma parte das instituições fortalecidas e outras subtraídas. E hoje vivemos um franco desequilíbrio do conceito de Estado republicano. Há o Poder Legislativo, colocado como um tijolo, e o Poder Judiciário e o Executivo na condição de pilares do Estado democrático. Isso não é bom, e é fato que a culpa é nossa. Temos de dialogar e votar a partir de uma agenda legislativa que se monte de comum acordo, que atenda aos interesses do País, votando, por exemplo, a emenda constitucional que cria a fidelidade partidária. Não podemos adiar essa votação porque daqui a pouco o Supremo Tribunal Federal vai também legislar. Por culpa nossa, é bom que se diga, e não do Supremo.

Nos 45 dias da interinidade, o senhor terá em mãos o orçamento de R$ 2,6 bilhões do Senado e um imenso quadro de pessoal. Que medidas pretende adotar na área administrativa?

Aqui tem servidores de excelência. Agora é evidente que a estrutura atual do Senado não é completa, não é suficiente no que diz respeito ao seu controle interno, ao seu controle de um modo geral porque ela precisa de mais eficiência. Eu acho que nós temos de avançar nessas áreas. Terei a cautela de fazer isso em comum acordo com o presidente afastado, que é o senador Renan, com os membros da Mesa Diretora e com os líderes partidários. Não será um ato de vaidade unilateral.

O senhor conversou com o presidente Lula após ter assumido o cargo?

Falei, sim. Deixei muito claro ao presidente Lula a minha compreensão do limite da função que estou ocupando, da minha responsabilidade política com a instituição Senado e de que a minha lealdade estaria francamente voltada para a instituição.