Título: Ensino médio receberá livros para bibliotecas
Autor: Cafardo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2007, Vida&, p. A31

A pedido do MEC, SBPC elaborou a lista com 160 títulos que serão comprados para atender 7,9 milhões de estudantes da rede pública

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) escolheu os 160 livros de referência e literatura que vão compor as bibliotecas das escolas públicas de ensino médio do País. A entidade fez o trabalho a pedido do Ministério da Educação (MEC), que pela primeira vez vai comprar exemplares para os alunos adolescentes. Serão 5 milhões de livros, que chegarão às escolas em 2008. Até 2006, eram adquiridas apenas obras para crianças da educação infantil e fundamental. O orçamento previsto para a aquisição dos livros - que poderão ser lidos por 7,9 milhões de alunos - era de R$ 17 milhões, mas o programa foi ampliado e governo ainda vai definir o aumento.

A lista tem clássicos da literatura, como Macunaíma, de Mario de Andrade, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Mas também contemporâneos, como Capão Pecado, de Ferréz. Em biologia, há uma obra do cientista que descobriu a estrutura do DNA, James Watson. Uma apresentação de O Capital em quadrinhos faz parte da relação de história. Há livros ainda das áreas de português, química, física, matemática, educação física, arte, filosofia, sociologia e geografia. As escolhas foram criticadas por alguns especialistas (leia ao lado).

Segundo a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar, a SBPC foi chamada para selecionar os livros porque ¿reúne todo o mundo acadêmico¿. Os processos, até então, para compras para bibliotecas eram feitos por comissões internas do MEC. Apesar de elogiar a lista da SBPC, a secretária diz acreditar que a experiência não deve ser repetir no ano que vem.

Inicialmente, os professores escolheriam 80 dos 160 títulos. O MEC decidiu ontem comprar todos os indicados pela SBPC. O governo não negociou preços com editoras; apenas informou quanto pagaria por obra.

¿Não houve transparência na escolha¿, diz o presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), João Arinos. A principal reclamação das editoras é a de que elas não puderam inscrever suas obras para a seleção. Os especialistas reunidos pela SBPC buscaram os títulos no mercado. ¿Será que eles conhecem todos os lançamentos, tudo que está à venda?¿, questiona a vice-presidente de operações da Editora Record, Sonia Jardim. A empresa teve oito livros entre os escolhidos para o ensino médio.

Segundo a Abrelivros, a venda de livros de literatura e de referência feita ao governo representa 30% da receita das editoras. O mercado é diferente do de obras didáticas, em que o MEC é o grande comprador.

PACOTES

A responsável pelo trabalho na SBPC, Lisbeth Cordani, conta que editoras enviaram pacotes de livros para a entidade durante o período de escolha. ¿Até entendo, porque elas querem mostrar o que têm, mas devolvemos todos¿, diz. Segundo ela, os grupos de cada área que fizeram as escolhas tinham experiência no ensino básico.

Foi proibida a participação de professores que são autores e a indicação de livros publicados por institutos ligados à SBPC ou ao PT (como a Fundação Perseu Abramo). Os grupos analisaram cerca de 2 mil títulos desde o início de 2007. A lista foi finalizada no mês passado e a relação, publicada no Diário Oficial da União segunda-feira.

O Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) existe desde 1997 e já teve vários formatos. Entre 2001 e 2003 eram comprados livros que deveriam ser levados para casa e lidos pelos alunos e suas famílias. Em 2005, o programa redirecionou o foco para ampliar o acervos das bibliotecas das escolas públicas.